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Especialistas consideram resolvido o mistério do avião desaparecido da Malaysia Airlines

Para analistas em programa de TV, piloto cometeu suicídio e assassinato em massa

Por Folha de S. Paulo 16/05/2018 18h06
Especialistas consideram resolvido o mistério do avião desaparecido da Malaysia Airlines
Especialistas consideram resolvido o mistério do avião desaparecido da Malaysia Airlines - Foto: Reprodução/FolhadeS.Paulo

Todas menos uma das 392 pessoas no trágico voo MH370 da Malaysia Airlines provavelmente estavam inconscientes, incapacitadas pela súbita despressurização do Boeing 777, e não tinham como saber que seguiram durante horas uma rota sinuosa para a morte.

Um grupo de peritos em aviação disse no domingo (13) que nesse trajeto houve um breve mas revelador desvio perto de Penang, na Malásia, a cidade natal do capitão do voo, Zaharie Ahmad Shah.

Em duas ocasiões, quem estava no comando do avião —e provavelmente era a única pessoa acordada— inclinou a aeronave à esquerda. Os especialistas acreditam que o piloto Zaharie estava dando uma última olhada.

Essa é a teoria assustadora que a equipe de analistas reunida pelo programa de TV 60 Minutes da Austrália apresentou sobre as últimas horas do MH370.

Eles suspeitam que o desaparecimento e a aparente queda do avião em 2014 foi o suicídio de Zaharie, então com 53 anos, e um ato premeditado de assassinato em massa.

Mas primeiro, disseram os especialistas, Zaharie teria despressurizado a aeronave, deixando inconscientes todas as pessoas que não estivessem usando máscara de oxigênio. Isso explicaria o silêncio do avião enquanto ele se desviava violentamente do curso: nenhum pedido de socorro do rádio do aparelho, nenhum texto final de despedida, nenhuma ligação de emergência que não conseguiu se completar.

Isso também explicaria como quem estava no controle teve tempo para manobrar o avião até seu local final.

Os destroços não foram encontrados, apesar das centenas de milhões de dólares gastos na busca durante quatro anos. O segredo do que aconteceu nos momentos finais do malfadado voo —e o motivo por trás de tudo— provavelmente morreu com seus passageiros e o piloto.

Mas a equipe do 60 Minutes, que incluía especialistas em aviação, o ex-chefe do Departamento de Segurança nos Transportes da Austrália, encarregado de investigar a queda do MH370 e um oceanógrafo, apresentou o que eles consideram a teoria mais provável.

"A coisa mais discutida é o ponto em que o piloto desligou o transponder, que ele despressurizou o avião, o que incapacitaria os passageiros", disse Larry Vance, um investigador de aeronaves veterano do Canadá. "Ele estava se matando. Infelizmente, estava matando todos os outros a bordo. E fez isso deliberadamente."

O suposto suicídio de Zaharie poderia explicar um fato estranho no trajeto final do avião: a inesperada curva à esquerda.

"O capitão Zaharie baixou a asa para ver Penang, sua cidade natal", disse no 60 Minutes Simon Hardy, um piloto graduado e instrutor de Boeings 777.

"Se você olhar cuidadosamente, verá que é realmente uma curva à esquerda, e então inicia uma longa curva à direita. E depois [ele faz] mais uma curva à esquerda. Por isso passei muito tempo pensando o que poderia significar, que motivo técnico havia para isso, e depois de dois ou três meses pensando finalmente tive a resposta: alguém estava olhando para fora pela janela."

"Poderia ser um longo e emocionado adeus", acrescentou Hardy. "Ou um curto adeus emocionado à sua cidade natal."

O voo 370 desapareceu em 8 de março de 2014, pouco depois de sair de Kuala Lumpur, com 239 pessoas a bordo que seguiam para Pequim.

A aeronave teria caído no extremo sul do oceano Índico.

Os governos de Malásia, China e Austrália cancelaram a busca oficialem janeiro de 2017. O relatório final do Departamento de Segurança nos Transportes australiano disse que as autoridades não chegaram mais perto de saber os motivos do desaparecimento do avião ou a localização exata de seus destroços.

Mas os especialistas do 60 Minutes tentaram responder a uma das principais perguntas que cercam o voo: como uma aeronave moderna, seguida por radar e satélites, simplesmente desaparece?

Porque Zaharie quis isso, respondem eles. E o piloto experiente, que tinha quase 20 mil horas de voo e havia construído um simulador de voo em sua casa, sabia exatamente como fazer isso.

Por exemplo, a certa altura, ele voou perto da fronteira da Malásia com a Tailândia, em ziguezague pelo espaço aéreo dos dois países, segundo Hardy. Mas nenhum deles consideraria o avião uma ameaça, porque estava na borda de seu espaço aéreo.

"Ambos os controladores não se importaram com aquela misteriosa aeronave porque ela desaparecia de repente de cada espaço aéreo", disse Hardy. "Se você me contratasse para essa operação e tentar fazer um 777 desaparecer, eu faria o mesmo. No que me diz respeito, é um voo muito preciso, e ele fez o serviço."

Mas, como escreveu a News.com.au, as hipóteses dos especialistas são apenas teorias —e não totalmente novas.

Zaharie e o copiloto, Fariq Abdul Hamid, foram os principais suspeitos no desaparecimento do avião desde o início. Havia rumores de que o casamento de Zaharie estaria terminando e que ele derrubou o avião após saber que sua mulher estava prestes a partir, segundo o site de notícias.

Outra teoria foi que ele sequestrou o avião em protesto pela prisão de Anwar Ibrahim, que era na época o líder da oposição na Malásia.

Um grupo chamado Brigada de Mártires Chineses reivindicou a responsabilidade pela queda, mas autoridades céticas disseram que era uma farsa.

Dois homens no avião viajavam com passaportes falsos, mas um deles era aparentemente um solicitante de asilo, e nenhum tinha ligação com o terrorismo.

Os destroços do avião, é claro, poderiam fornecer alguma ideia sobre o que causou sua queda, e equipes ainda procuraram por ele neste ano.

A última tentativa de encontrá-lo foi um esforço de US$ 70 milhões (R$ 257 milhões) de uma empresa do Texas chamada Ocean Infinity, segundo a agência Associated Press. A missão rastreou 800 km2 por dia durante três meses de busca.

O executivo-chefe da Ocean Infinity, Oliver Plunkett, disse que a tecnologia da empresa tinha funcionado "excepcionalmente bem", coletando "quantidades significativas de dados de alta qualidade".

Mas não encontrou vestígios do MH370.