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Permanência na vila gera crise entre nadadores e técnicos na Rio-2016

Equipe brasileira teve oito finalistas, mas saiu sem pódio pela primeira vez desde Atenas-2004

Por UOL - Folha de São Paulo 16/08/2016 07h07
Permanência na vila gera crise entre nadadores e técnicos na Rio-2016
Nadador Bruno Fratus - Foto: Christophe Simon

Marcada por uma campanha aquém do esperado, a natação brasileira teve uma semana tensa durante sua participação nos Jogos do Rio.

Segundo a Folha apurou, duas situações causaram rusga entre nadadores e a comissão técnica. A equipe teve oito finalistas olímpicos, mas saiu sem pódio pela primeira vez desde Atenas-2004.

O mais grave episódio envolveu a permanência de atletas na Vila Olímpica, localizada na Barra da Tijuca. Um grupo de competidores defendia que todos os 33 convocados deveriam ficar hospedados dentro da instalação ao longo de toda a competição —que se estendeu de 6 a 13 de agosto.

De acordo com Nicolas Oliveira, 29, um dos favoráveis pela permanência de todos, até mesmo o COB (Comitê Olímpico do Brasil) não teria se oposto à solicitação. Na Rio-2016, a entidade já havia permitido que toda a seleção de judô continuasse na vila até o final das disputas, ao contrário do que ocorria no passado.

Porém, a CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) vetou o prolongamento da estadia no local.

Isso acirrou ânimos entre nadadores e a comissão técnica e causou divergência, até mesmo, entre os atletas.

Guilherme Guido, 29, que disputou os 100 m costas e era dos mais experientes do grupo, era dos que defenderam que os convocados que já haviam encerrado participação fossem desmobilizados.

Oliveira, por exemplo, competiu individualmente até a terça-feira (9), quando foi eliminado dos 100 m livre.

Como nadaria ainda o revezamento 4 x 200 m livre e poderia ser escalado para o 4 x 100 m medley, ficou no local. "Em meu quarto cabiam oito pessoas, eu fiquei sozinho e ninguém mais entrou até o final da natação. Por que os atletas não puderam ficar para apoiar a equipe?", comentou.

A saia justa fez com que Oliveira e o diretor-executivo da CBDA, Ricardo de Moura, se reunissem na semana passada para discutir a questão.

O dirigente contou à Folha que o veto à permanência dos nadadores na Vila Olímpica após sua participação se deve a episódios no passado dentro, inclusive, de Olimpíadas.

Ele afirmou que houve um caso grave nos Jogos de Sydney-2000 envolvendo um integrante da seleção cuja continuidade na instalação foi permitida, e desde então tem por norma liberar os atletas.

Moura disse que mudar estes critérios nos Jogos do Rio estava fora de cogitação. "Os atletas tiveram tudo do bom e do melhor para fazer a preparação", comentou o dirigente.

'CLUBISMO'

Outro problema interno na delegação nacional foi o que um nadador relatou à reportagem como o "clubismo", ou seja, panelinhas trazidas de clubes entre técnicos e atletas.

O competidor, que pediu anonimato, afirmou que o questionamento feito dentro da equipe diz respeito aos técnicos Fernando Vanzella, treinador-chefe da equipe feminina, e Alberto Pinto da Silva, o equivalente na masculina.

Ambos estão ligados a clubes —Vanzella ao Sesi e Silva, ao Pinheiros—, o que na avaliação de alguns competidores é errado. Eles defendem que os diretores sejam neutros. No sábado (13), Moura afirmou que o modelo será analisado e, se necessário, reavaliado.