Alagoas

Após reação a morte de filhotes de tartarugas, turismo no Gunga coexiste com preservação

Após assinatura de TAC, veículos fazem nova trilha, por dentro do sítio e longe da desova de tartarugas, há 15 dias

Por Ludmila Calheiros 27/04/2016 19h07
Após reação a morte de filhotes de tartarugas, turismo no Gunga coexiste com preservação
Arquivo das agressões aos filhotes de tartarugas no Gunga - Foto: Montagem/Reprodução Tv Alagoas

A natureza foi muito generosa com a praia do Gunga, em Roteiro, no litoral Sul de Alagoas. O local atrai a atenção de turistas do estado, de todo o país e do mundo. Destino certo para quem procura um pedaço do paraíso para curtir ou simplesmente descansar contemplando a natureza. Só que em troca de tanta beleza o homem atacou o ambiente, da forma mais perversa. Pela diversão de fazer uma trilha na praia, dezenas de filhotes de tartaruga foram esmagados. O Gunga é local de desova de tartarugas, doze ninhos com centenas de ovos foram encontrados. Para tentar preservar a vida, uma grande operação foi montada em fevereiro e mais de 100 veículos que trafegavam pela praia foram apreendidos. Os proprietários e condutores foram autuados por crime ambiental. Mas hoje, quem agredia virou protetor.

Após 45 dias sem trilhas na praia do Gunga, os veículos voltaram a realizar o passeio há 15 dias, após a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o comprometimento com a preservação da área. Antes 80 bugres faziam a trilha, metade desses veículos foram retirados de circulação por falta de documentação e por apresentarem problemas, restaram 40. O número de quadrículos permaneceu o mesmo, são cerca de 30. O grande diferencial agora é a rota adotada, antes a trilha era feita pela praia, em plena área de desova. Após a assinatura do TAC, a cerca foi recuada pelo proprietário do lugar e a trilha passou a acontecer por dentro do sítio. Até um portal de entrada está sendo construído.

“Agora o passeio ocorre por dentro do sítio em uma faixa de 3,5km até nosso primeiro ponto de parada, nas falésias. O pessoal aproveita para tirar fotos. Depois seguimos para a segunda parte, são mais 2,5km entre as falésias e a praia, até chegar na lagoa. Dividimos o percurso em duas ‘faixas’, agora temos mão e contramão. Ou seja, o passeio é mais seguro para os visitantes e para a natureza, já que passamos longe da área de desova. Com a mudança, todos ganhamos, nem a vista foi prejudicada”, explicou o administrador do Gunga, Ednaldo Cursino.

O Gunga agora é exemplo, é a confirmação que o turismo e a preservação da natureza podem coexistir, sem prejuízo a nenhum dos lados. A turista do rio Grande do Sul, Carline Dayana, estava curtindo o Gunga com os amigos, que também vinham de outro estado, São Paulo. Ela acompanhou a morte dos filhotes de tartaruga pela internet, mas decidiu fazer o passeio.

“A gente tá aguardando para fazer, mas só decidimos porque o pessoal que gerencia a trilha explicou que foram implantadas mudanças. Eles explicaram que vamos fazer a trilha com um guia à nossa frente e que não podemos nos distanciar, justamente para não afetar essas áreas de desova. Assim ficamos tranquilos e estamos na expectativa, o lugar é lindo e vamos aproveitar bastante. Claro, sem prejudicara a natureza”, revelou a turista.

Ednaldo Cursino ainda ressaltou que outras mudanças estão sendo programadas, para garantir uma maior organização na área. Além disso, hoje todos que trabalham na trilha seriam também protetores ambientais.

“Nós orientamos eles, que fazem esse caminho várias vezes durante o dia, a verificar se há algum tipo de desrespeito por parte do turista que está sendo guiado ou pelo pessoal que tem veículos de tração e continuam trafegando pela área. Ainda tem gente que faz isso. Outro dia fotografei e filmei para enviar para os órgãos ambientais. Agora precisamos que eles continuem fazendo o mesmo tipo de ação que apreendeu os veículos que fazíamos a trilha para coibir os particulares”, expos o administrador.