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Itália mobiliza 5.000 após tremor, e segue esperança por sobreviventes

Ao menos 267 pessoas morreram na tragédia; parte central do país está desvastada

Por UOL - Folha de São Paulo 26/08/2016 07h07
Itália mobiliza 5.000 após tremor, e segue esperança por sobreviventes
Itália mobiliza 5.000 após tremor, e segue esperança por sobreviventes - Foto: Reuters

A estrutura montada pela Itália para amenizar os estragos do terremoto de quarta-feira (24) se espalha pela região central do país, entre cidades já praticamente esvaziadas de seus moradores.

Em Amatrice, um dia após o tremor que deixou ao menos 267 mortos, não se ouvem os sons habituais da cidade, que se preparava para um festival gastronômico no fim de semana –o local dá nome ao molho matriciana, com tomate, bacon e pecorino.

Em vez disso, há o latido do cão farejador, o gerador de eletricidade, o sobrevoo do helicóptero e o grito do bombeiro. O resgate e o apoio a sobreviventes envolvem italianos de todo o país. As placas dos veículos registram nomes de diversas regiões.

Segundo informações do governo italiano, aproximadamente 5.000 pessoas foram mobilizadas para as operações após o terremoto.

Há desaparecidos, além de 365 feridos. Ao menos 470 réplicas já foram registradas desde o terremoto, ocorrido às 3h30 de quarta-feira (22h30 de terça-feira em Brasília).

17 HORAS SOB RUÍNAS

O cenário de Amatrice é semelhante, a 30 minutos dali, em Pescara del Tronto, onde se realizou um dos resgates mais emblemáticos. Uma menina foi retirada viva sob os escombros 17 horas após o terremoto.

"São histórias que simbolizam nossa vontade de viver", diz à Folha o bombeiro Danilo Dionisi, presente no momento. "Buscávamos a menina desde cedo. Quando a encontraram, houve uma exaltação. Um silêncio. Nos deu força para continuar."

Dionisi afirma que as buscas seguirão e que nenhum dos socorristas trabalha com a hipótese de que já não haja sobreviventes, apesar do passar das horas. "Nós manteremos a mesma força."

Próximo dali, um grupo de policiais ajuda a controlar o tráfego. Uma equipe corre atrás de seu cão farejador, e soldados impedem a reportagem de se aproximar do centro da cidade, mais instável.

Em Amatrice, o núcleo histórico ruiu quase por completo. Uma igreja do século 15 estava danificada. A torre do relógio, construída no século 13, permanecia de pé, com o horário paralisado às 3h39, minutos após o terremoto.

Dario Franceschini, ministro da Cultura, disse que 293 locais de importância cultural foram seriamente danificados ou desmoronaram.

VOLUNTÁRIOS

Parte fundamental do resgate são os voluntários, como Chiara Diletta Marini, 26, que veio de Roma para auxiliar na distribuição de alimentos. Enquanto fatia pães com geleia para dar a moradores, diz: "Nunca vi nada assim".

Ela afirma que a região necessita, principalmente, de medicamentos, uma avaliação repetida por outras pessoas envolvidas na ação.

Uma das razões por que houve estrago tão extenso é que as construções da região são antigas e inadequadas para enfrentar tremores. Casas de pedra são comuns.

Um grupo de jovens poloneses também viajou a Amatrice para se voluntariar.

Eles estavam na Itália a turismo, explorando cavernas, mas se sensibilizaram por relatos do desastre e foram de carro para lá.

A reportagem cruza com eles em uma estrada escura, descendo de Amatrice, carregando cordas e lanternas. Eles lamentam ainda não ter conseguido ajudar. "Não sabemos o que fazer, diz Yacub Ochnio, 26. "Não sabemos quem está no comando ou como podemos contribuir."

Com o fluxo de voluntários ao local, parece haver excesso de mão de obra para uma tarefa que, com o passar do tempo, se torna mais improvável: localizar sobreviventes. É possível notar algum cansaço entre as equipes no local, e aspereza com quem está ali só para observar.

O comando varia de acordo com as tarefas, mas voluntários se reportavam aos bombeiros, à frente das buscas. 

Mortos

A chefe de emergências da Defesa Civil, Immacolata Postiglione, divulgou nesta sexta-feira (26), em Roma, o novo número de mortos e explicou detalhes da situação nas zonas afetadas pelo terremoto de magnitude 6,0 na escala Richter que atingiu várias regiões do centro do país.

Immacolata informou que há 49 mortos na cidade de Arquata del Tronto, província de Ascoli, na região das Marcas, 207 em Amatrice e 11 em Accumuli, estes dois últimos na província de Rieti, região de Lácio. O número de feridos internados nos hospitais é de 387, acrescentou.

A porta-voz da Defesa Civil informou, além disso, que as pessoas que dormiram nos acampamentos instalados em vários pontos da área afetada foram 2,1 mil, em comparação aos 1,2 mil da noite anterior, já que muitos decidiram passar a noite nas tendas e ginásios, em vez de nos automóveis ou ao ar livre.

A Defesa Civil instalou vários acampamentos e colocou à disposição ginásios e outros centros com um total de 3,5 mil camas para as pessoas que ficaram sem casa após o terremoto. Os desabrigados tiveram mais uma noite difícil, porque houve 57 novos tremores durante a noite, sendo que o mais forte - de magnitude 4,9 na escala Richter - ocorreu às 6h28 (hora local) e durou mais de um minuto.

Este tremor causou novos deslizamentos de terra, mas não atrapalhou as equipes de resgate que seguem trabalhando na busca de pessoas sob os escombros. Elas continuaram os trabalhos ao longo da madrugada tanto em Amatrice como em Pescara del Tronto, localidades onde as autoridades têm esperança de encontrar algum desaparecido.