Alagoas

AL é o estado onde menos se pratica atividade física e culpa é a falta de tempo

Por Mariane Rodrigues *estagiária 25/05/2017 13h01
AL é o estado onde menos se pratica atividade física e culpa é a falta de tempo
Academia pública na Orla de Jatiúca, em Maceió - Foto: Assessoria/ Ilustração

Kaio Henrique Santos, 20 anos, estudante de jornalismo, já começa seu dia logo às 7h da manhã, quando se apronta para ir ao ensaio da Banda Filarmônica de Matriz de Camaragibe, que começa às 8h. Até meio dia, sua manhã é dedicada à escola de música. A partir das 12h até ás 14h, ocupa seu tempo ao almoço, descanso e para se preparar à faculdade. Sai às 14h30 para estudar em Maceió e só retorna à meia noite. Nas 24h do seu dia, nem uma hora é dedicada a algum tipo de atividade física ou prática esportiva. Sua rotina o coloca entre as 123 milhões de pessoas, a partir dos 15 anos, que não praticam esporte no Brasil. Alagoas é o estado onde este público menos realiza atividade física.  

O dado é de uma pesquisa divulgada neste mês de maio pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) referente ao ano de 2015, que pesquisou Kaio Henrique, 20 anos. pessoas de 15 anos ou mais, selecionadas aleatoriamente em cerca de 60% dos domicílios brasileiros, ou seja, 95 mil residências, entre setembro de 2014 e setembro de 2015.

Assim como Kaio, deste total de não praticantes de atividade física ou atividade esportiva, 38,2%, ou seja, a maioria, coloca a culpa na falta de tempo para não fazer as atividades. “O horário que tem exercícios na minha cidade é de 5h30 da manhã, mas não dá para eu acordar a essa hora, porque chego de meia noite. Na verdade, tenho o horário entre 12h e 14h, mas confesso que é a hora da preguiça e prefiro descansar”, afirma Kaio.  

O professor licenciado e bacharel em Educação Física, João Carlos de Oliveira, afirma, que independente da rotina de uma pessoa, sempre é possível adequar as atividades físicas ou práticas esportivas ao tempo do indivíduo.  Ele dá dicas de como organizar o tempo.

“Primeiro ela precisa organizar melhor o seu tempo, e se educar para a necessidade de praticar exercícios ou esporte. O dia tem 24 horas e ela só precisa de 30 minutos a uma hora para ficar em atividade. É só pegar uma caneta e um papel e colocar toda a sua disposição de horário. Ela encontrará um horário para a sua prática ou adaptar a prática da atividade física com a sua disposição de horário”, explica o professor, que também foi atleta de alto rendimento por 20 anos e é autor do livro ‘Força de Campão, nas lutas e na vida”.

Na contramão das estatísticas, Ana Flávia trabalha, estuda e ainda reserva as primeiras horas do dia com atividade física

A também estudante de jornalismo, Ana Flávia, de 24 anos, está entre os 61,3 milhões de brasileiros que praticam esportes ou atividade física, de acordo com a pesquisa referente ao ano de 2015. O número parece alto, mas ainda é a minoria no Brasil.

Para Ana Flávia, tempo e preguiça não são problemas. Pois são às 4h50 da manhã que ela já está de pé, para às 5h30 começar a sua corrida matinal de 30 minutos, ora na esteira da academia, ora na orla. Além de todos os dias treinar de 6h às 7h, nas terças e quintas ela faz aula de fitdance após os treinos da academia. Às 7h30 ela finaliza todas as atividades, e se apronta ainda na academia, para chegar o trabalho às 8h.  Deste horário, todos os seus afazeres, que incluem trabalho, preparação de marmita para o dia seguinte, banho e faculdade terminam por volta das 22h.

“No começo foi difícil acordar cedinho, mas é só questão de costume. Tenho acompanhamento de um personal e uma nutricionista esportiva. Meu horário com ele é de segunda a sexta de 06h as 07h. Ele ajusta o horário de acordo com a disponibilidade do aluno. Os exercícios e aeróbicos são de acordo com a necessidade, tempo e objetivo de cada aluno”, explica a estudante.

Por falta de tempo há a adaptação, mas quando o motivo é preguiça, o professor João Carlos de Oliveira explica, que em sua experiência, essa é a justifica mais frequente dada pelas pessoas.  Ele orienta como deixar a preguiça de lado para começar a se exercitar.

“O mais bacana é procurar fazer algo com objetivo de aprender. Por exemplo: começar com uma luta, artes marciais, ou uma dança, porque exigem a cada treino um estímulo diferente. De preferência pode procurar um amigo ou parente para iniciarem Juntos, assim um incentiva o outro”, finaliza.       
 

Maioria dos que praticam é de classe média, tem maior escolaridade e utiliza espaços privados   

A pesquisa mostrou dados interessantes. Quanto maior a escolaridade e a renda mensal, mais prática esportiva.  A maioria, 56,7%, possui nível superior e recebe cinco salários mínimos ou mais (65,2%).  Esses dados podem estar relacionados ao fato de que, como apresenta a pesquisa, a maioria pratica esporte em espaços privados.

Em contrapartida, há os de classes menos favorecidas, com menos escolaridades que menos praticam atividades físicas e esportivas. Relacionados a isso, as instalações esportivas com utilização gratuita formam o ambiente menos utilizado.

Segundo o professor de Educação Física, Victor Albuquerque, o baixo índice de atividade esportiva no Brasil, e principalmente em Alagoas, que recebeu o menor indicador, se deve a faltas de políticas públicas e espaços gratuitos fornecidos pelos governos e prefeituras para atender a população mais carente.

“Às vezes a pessoa não têm dinheiro para entrar em uma escola de futebol, por exemplo. Se uma pessoa quiser jogar bola tem que alugar campo com os amigos, que custa em torno de 200 reais a hora. Onde há campos de bairros, só se pode fazer durante o dia, porque não tem energia à noite, e pelo dia, essa população que utiliza está trabalhando. Esses campos estão dando lugar a outras construções”, observa o professor.

 Bônus

Para quem não tem condições de pagar por um local privado para a prática esportiva e atividade física, o professor João Carlos de Oliveira aconselha, primeiramente ir a um posto de saúde para realizar consulta e verificar se há algum indicador que limite a atividade. E depois, buscar a secretaria de esportes do município em que reside para se informar dos centros esportivos, clubes ou programação esportivas gratuitas. A caminhada, por exemplo, é uma ótima opção tanto para a saúde quanto para o bolso. O único cuidado que se deve tomar é com a escolha do local onde será praticada.    

Em Maceió, há a academia gratuita localizada na Orla da Jatiúca. Para entrar, basta apenas levar cinco garrafas pets para a reciclagem, RG, CPF, e para quem tem acima de 60 anos, levar um atestado médico.  Atualmente, a academia possui 4.710 pessoas, que, de acordo com a professora de Educação Física que trabalha no local, são de todas as classes sociais, adolescentes, adultos e idosos que frequentam.