Política

Palocci: Lula tinha ‘pacto de sangue’ com Odebrecht por propinas

Por Veja 06/09/2017 19h07
Palocci: Lula tinha ‘pacto de sangue’ com Odebrecht por propinas
O ex-ministro Antonio Palocci (PT), preso na 35ª fase da Operação Lava Jato deixa o Instituto Médico Legal (IML) após realização de exame de corpo de delito, em Curitiba, na tarde dessa segunda-feira (26). - Foto: Paulo Lisboa/Brazil Photo Press/

Em depoimento ao juiz federal Sergio Moro nesta quarta-feira (06), o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci, preso pela Operação Lava Jato, incriminou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na ação penal em que o petista é suspeito de ter recebido propinas da Odebrecht por meio de um apartamento vizinho ao do ex-presidente, em São Bernardo do Campo, ABC paulista, e da compra de um terreno que abrigaria a sede do Instituto Lula.

Detido em Curitiba desde setembro de 2016, Palocci reconheceu ao magistrado que a denúncia do Ministério Público Federal “procede”, disse ter participado das tratativas de vantagens indevidas e afirmou que a relação entre os governos petistas e a empreiteira era “bastante intensa, movida a vantagens dirigidas à empresa e propinas pagas pela Odebrecht para agentes públicos”.

Palocci falou em um “pacto de sangue” entre o empresário Emílio Odebrecht e Lula, que teria envolvido um “pacote de propinas” ao petista. “O doutor Emílio Odebrecht fez uma espécie de pacto de sangue com o ex-presidente Lula. Ele procurou o ex-presidente nos últimos dias de seu mandato e levou um pacote de propinas para o presidente Lula que envolvia esse terreno do instituto, que já estava comprado e o seu Emílio apresentou ao presidente Lula, o sítio para uso da família do presidente, que já estava fazendo a reforma, fase final, e ele disse que o sítio já estava pronto. E também disse ao presidente que ele tinha à disposição dele para ele fazer atividades políticas dele 300 milhões de reais”, contou o ex-ministro.

Segundo Antonio Palocci, o acerto com Lula teria sido firmado porque a Odebrecht “se mostrou muito tensa” com a posse de Dilma Rousseff, que já se posicionara contra os interesses da empresa na construção de hidrelétricas no Rio Madeira. O ex-ministro disse ter ficado “chocado” com a oferta do empresário ao ex-presidente, relatada a ele pelo próprio Lula em uma conversa no Palácio da Alvorada, no final de 2010.

Palocci relata ter sido encarregado pelo petista de tratar sobre os recursos com Marcelo Odebrecht, filho de Emílio, que propôs a abertura de uma conta-corrente para manejo da propina. Em uma das primeiras conversas com o empreiteiro, no entanto, Marcelo retificou o valor prometido para 150 milhões de reais. Depois de reunião entre Emílio Odebrecht, Lula e Dilma, o petista teria garantido que o valor inicial seria mantido. “O presidente Lula me chama de novo e fala: ‘olha, o Emílio veio, tivemos uma ótima reunião, ele confirmou os 300 milhões e falou que pode ser mais se necessário”, declarou o ex-ministro a Moro.

Antonio Palocci ponderou ao magistrado que a relação entre os governos petistas e a maior empreiteira do país não era “linear” e “permanentemente pacífica”, mas que o relacionamento era “fluido” e envolvia favorecimentos à empresa e doações de campanha. “A Odebrecht, em particular, tinha uma relação fluida com o governo em todos os aspectos. Partindo de aspectos de realização de projetos, assim como participação em campanhas. A participação em campanhas se dava de todas as maneiras, a maior parte com caixa um, mas o caixa um muitas vezes originário de atitudes e contratos ilícitos”, disse Antonio Palocci, antes de confirmar que “quase todos” contratos da empreiteira com a Petrobras geraram “créditos” ao PT.

Neste processo, Lula é acusado pelo Ministério Público Federal dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por supostamente ter recebido propinas de 13 milhões de reais da Odebrecht.

Parte do dinheiro, 12,4 milhões de reais, sustentam os procuradores, teria sido gasta na compra de um terreno para abrigar a sede do Instituto Lula em São Paulo – o instituto acabou sendo construído em outro endereço. Outros 504.000 reais teriam sido usados na compra da cobertura contígua à de Lula no edifício Hill House, em São Bernardo do Campo (SP). As duas compras teriam sido feitas por meio de laranjas: no caso do terreno, o empresário Demerval Gusmão; no caso da cobertura, Glaucos da Costamarques, primo do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula.

Serão julgados nessa ação penal o ex-presidente, Antonio Palocci, Gusmão, Costamarques, o empreiteiro Marcelo Odebrecht, o ex-assessor de Palocci Branislav Kontic, e o advogado de Lula, Roberto Teixeira.