Polícia

Cristiano Matheus é acusado de criar maior rede de laranjas investigada pela PF em AL

Justiça Federal volta a negar prisão de acusados sem foro privilegiado

Por 7 Segundos 05/12/2017 12h12
Cristiano Matheus é acusado de criar maior rede de laranjas investigada pela PF em AL
PF relata que número de laranjas envolvidos atrapalha investigação - Foto: 7Segundos

Durante coletiva de imprensa concedida na manhã desta terça-feira (05), a Polícia Federal relatou detalhes de como funcionava o maior esquema envolvendo laranjas já investigado pela PF em Alagoas. É da PF a informação de que o objetivo da operação Kali é desarticular uma organização criminosa que tem como princípio ocultar bens, empresas e valores provenientes de recursos desviados do Programa Nacional de Alimentação (PNAE) e do Programa Nacional de Atenção ao Transporte Escolar (PNATE).

Embora a PF não tenha informado oficialmente o nome do principal investigado, as denúncias correspondem ao período em que o ex-prefeito Cristiano Matheus estava à frente da prefeitura de Marechal Deodoro. A PF acredita que o esquema se perpetuou mesmo depois de Matheus deixar o cargo. Além de parentes do ex-gestor, amigos e funcionários estariam envolvidos no suposto esquema.

“Cardápio nefasto de práticas criminosas que dilapidaram e vilipendiaram cofres públicos de Marechal Deodoro e que agora são dirigidas para ocupar o patrimônio amealhado pelo crime e inviabilizar as investigações criminais. Rede de laranjas para impedir e dificultar os trabalhos investigativos da polícia. Organização criminosa dedica a lavar dinheiro desviado dos cofres públicos,” foi como o delegado da Polícia Federal, Bernardo Gonçalves, escreveu o modus operandi da quadrilha.

Para esclarecer como o bando age, o delegado usou uma sala comercial comprada em Maceió como exemplo. A sala teve vários donos e chegou a ser trocada por outra no mesmo prédio para confundir o rastreamento da PF.

“Em 2012 foi adquirida uma sala em nome do motorista do ex-prefeito e em seguida trocada por outra sala no mesmo prédio. Depois essa nova sala foi transferida para uma servidora vinculada ao município de Marechal que repassou o nome da sala novamente para o motorista que, por fim, repassou para um amigo empresário do ex-prefeito. Esse mesmo amigo tem outras duas salas no mesmo prédio e figura como proprietário de um apartamento que acreditamos ser do ex-prefeito, mas que ele alega não ser dele. Durante as investigações foram apresentados recibos de aluguéis falsos desse imóvel, com datas falsas, entre eles, um com data de 17 de dezembro de 2017, data que ainda nem chegou. Em 2014 foi executado projeto de reforma e ambientação desse mesmo apartamento. O projeto foi contratado e pago pela dona de uma construtora que tinha contratos no valor de R$ 17 milhões de reais na gestão do investigado.  A conclusão do projeto custou R$ 104 mil, pagos inteiramente pela dona da construtora. O pagamento foi feito em espécie, no ano de 2014”.

Hoje foi apreendido 297 mil reais, 14 mil euros e 5 mil dólares na casa da dona da construtora.

O motorista citado acima é guia particular do ex-prefeito e pago pelo Governo do Estado de Alagoas. Ele é vinculado à Secretaria de Cultura, atualmente comandada pela ex-mulher de Matheus, a ex-prefeita de Piranhas, Melina Freitas, investigada por diversas fraudes. Em depoimento, o motorista disse que nunca deu um dia de serviço para o Estado de Alagoas. Esse mesmo motorista serviu para ocultar dois imóveis residenciais em Marechal Deodoro e uma sala comercial em Maceió. No caso da sala, ele alega que nem sabia que havia figurado como proprietário.

Em outro caso, outra construtora - que também  tinha contrato no valor R$ 8 milhões com a Prefeitura de Marechal Deodoro - deu início a uma reforma na casa do então prefeito da cidade e que não foi concluída, mas gerou custos de R$ 30 mil à construtora nunca pagos pelo ex-gestor.

Também em 2016, Matheus teria contratado um projeto para móveis planejados de uma casa em Marechal. A negociação teria ocorrido em uma loja de Maceió, contratada para o projeto pelo valor de R$ 110 mil. O proprietário da loja, uma arquiteta de Marechal e outras testemunhas prestaram depoimento à polícia e declararam que Matheus teria ligado para o então secretário de finanças do município que levou o valor em espécie para loja.

Durante a coletiva, a PF também esclareceu que amigos de Matheus teriam ficado ‘ricos’ durante o governo de Cristiano. “Em um dos casos uma pessoa comprou uma frota de mais de 20 veículos grandes, alguns deles ônibus. A compra chegou a cinco milhões de reais, feita em 2016. Esse amigo abriu uma empresa de ônibus e conseguiu, junto à agência reguladora do estado, concessão para exploração de linhas de ônibus na cidade,” continuou o delgado.

Até o parto da ex-mulher de Matheus - que deu à luz em junho de 2017 – teria sido pago com verba pública. O mesmo amigo que figura como dono do apartamento em Maceió que a polícia acreditar ser de Matheus teria efetuado o pagamento do procedimento médico. O relato é do obstetra da paciente. Também esse amigou movimentou entre junho de 2015 e dezembro de 2016, em sua conta bancária particular, a quantia de 14 milhões de reais.

Gedel de Alagoas?

"É mais um reflexo do que a gente tá vendo acontecer em nosso país. Hoje em dia, políticos confundindo a verba pública com os interesses particulares e se valendo de um mandato eletivo, onde chegaram pelo voto popular, para fazer malversação dos recursos públicos", afirmou o delegado Márcio Tenório, coordenador da Operação Kali quando perguntado se Cristiano seria o Gedel de Alagoas - em refrência ao ex-ministro do governo Temer, Gedel Vieira Lima autor de desviar a maior quantidade de dinhiero já apreendida pela Polícia Federal.

"A pessoa que comete esse tipo de crime não tem como justificar os fundos, a origem do dinheiro. Então, ela não pode usar o Sistema Oficial porque o Sistema Oficial é rastreado pelo Estado", continuou Tenório.

Motorista

"Esse é um dos principais laranjas do investigado. Está mais que comprovado que ele faz parte do esquema. Hoje, na busca que a gente realizou na residência dele foi apreendido mais um objeto de luxo: uma caminhonete Triton, de cabine dupla, em nome de terceiros. Já havia acontecido isso na primeira fase. Esse cidadão tem cinco filhos e que ganha menos de um salário mínimo. Hoje é empregado da Secretaria de Cultura, inclusive, embora motorista particular do investigado". acrescentou Tenório.

Da Justiça

A polícia cumpriu 25 mandados de busca e apreensão e, após indícios robustos, havia pedido a prisão de Matheus e outros quatros investigados que não possuem foro privilegiado, mas a 2º Vara da Justiça Federal indeferiu os pedidos de prisão. O mesmo ocorreu durante a operação Caribds ocorrido no último dia 30 de novembro e que envolve o ex-governador de Alagoas Teotonio Vilela Filho.

As investigações continuam em andamento.