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O que se sabe sobre os Turpin, a 'família feliz' que manteve os 13 filhos presos na Califórnia

Por BBC Brasil 17/01/2018 19h07
O que se sabe sobre os Turpin, a 'família feliz' que manteve os 13 filhos presos na Califórnia
Na página do Facebook do casal, há muitas fotos da família reunida - Foto: David-Louise Turpin/Facebook

Tudo indicava que uma típica "família feliz" vivia no número 160 da via Muir Woods, em Perris, Califórnia.

Pelo menos era o que acreditavam muitos dos vizinhos e pessoas próximas a David Allen e Louise Anna Turpin, de 57 e 49 anos, respectivamente - os pais que mantiveram seus 13 filhos em cativeiro.

Uma das filhas, de 17 anos, conseguiu fugir no último domingo e chamar a polícia de um celular que encontrou dentro da casa, localizada a cerca de 95 quilômetros de Los Angeles.

Quando os agentes chegaram ao local, encontraram alguns dos irmãos, com idades entre dois e 29 anos, amarrados com correntes e cadeados.

De acordo com as autoridades, os filhos do casal estavam trancados "em um ambiente sombrio e com mau cheiro".

"As vítimas aparentavam estar desnutridas e muito sujas", afirmou a polícia.

Uma família sorridente

A cena encontrada pelos policiais contrasta com as fotos exibidas pela família nas redes sociais, nas quais aparecem visitando locais turísticos como a Disney ou Las Vegas.

Em muitas dessas fotos, os filhos aparecem usando o mesmo tipo de roupa, como se fosse um uniforme. Todos parecem pálidos, mas sorridentes.

Os moradores das casas próximas agora se perguntam se deviam ter desconfiado de algo, afinal as crianças, adolescentes e adultos eram pouco vistos pela vizinhança.

O casal permanece detido sob fiança de US$ 9 milhões (cerca de R$ 29 milhões) cada. Eles são acusados de tortura e de colocarem menores de idade em situação de perigo.

Greg Fellows, chefe de polícia do condado de Riverside, explicou em uma entrevista a jornalistas o por quê de as autoridades estarem falando em tortura.

"Como vocês podem bem imaginar, ter 17 anos, mas aparentar 10, estar acorrentado a uma cama, estar desnutrido e ter lesões associadas a isso é o que eu chamaria de tortura."

Fellows acrescentou que não foram encontradas evidências de abuso sexual ou doença mental por enquanto, mas lembrou que a investigação acaba de começar.

"Não posso entrar nos detalhes da conversa, mas pareceu que a mãe ficou perplexa diante da razão pela qual estávamos na casa."

Problemas financeiros

De acordo com registros públicos, o casal viveu no Texas por muitos anos, se mudando para a Califórnia em 2010.

Anna Turpin, de acordo com esses documentos, trabalhava como dona de casa, sem renda, enquanto David Turpin aparece com um emprego relativamente bem remunerado como engenheiro da empresa Northrop Grumman, do setor de tecnologia de defesa.

Mas com tantos filhos e uma esposa sem trabalhar fora, os registros sugerem que as despesas excederam a renda de David, e ele teve que declarar falência duas vezes.

Documentos bancários mostram que ele ganhou mais de US$ 140 mil (cerca de R$ 451 mil) em 2011, mas as despesas da família excederam seu salário líquido em mais de US$ 1 mil (R$ 3,2 mil) por mês.

A página do Facebook da família mostra várias fotos e vídeos deles, aparentemente felizes e sorridentes - com muitas postagens contendo comentários de familiares ou amigos.

As imagens indicam que os cônjuges renovaram seus votos de casamento várias vezes nos últimos anos, muitas delas com a presença dos filhos.

Em uma série de vídeos, o casal é visto na Capela de Elvis em Las Vegas, no qual David Turpin diz à esposa: "Eu te ofereço este anel como símbolo do meu amor, babe, babe".

As crianças riem na companhia de um imitador de Elvis Presley, e aplaudem quando o casal se beija.

Escola domiciliar

James e Betty Turpin, os avós das crianças, afirmaram à imprensa americana que seus netos eram "educados em casa".

No site do Departamento de Educação da Califórnia, David Turpin está registrado como o diretor da Sandcastle Day School, uma escola privada.

A escola abriu em março de 2011, de acordo com o site, e há seis estudantes matriculados lá, todos em diferentes séries.

Na Califórnia, as escolas privadas operam fora da jurisdição do Departamento de Educação.

Os alunos e seus pais ou responsáveis legais são diretamente encarregadas por essas escolas, e o Estado não tem autoridade para monitorá-las ou avaliá-las.

Professores também não precisam ter uma qualificação validada pelo Estado para atuar nelas.

Os avós asseguraram que os netos recebiam uma "educação escolar muito rigorosa em casa", e que tinham que memorizar longas passagens da Bíblia.

Apesar disso, a Sandcastle Day School figura nos registros públicos como uma escola "não religiosa".

Os avós afirmaram que acharam os netos "magros" quando visitaram a família pela última vez, mas que aparentavam fazer parte de uma "família feliz".

Mas disseram também que não viam a família havia quatro ou cinco anos, embora falassem com eles por telefone.

O casal assegurou que os Turpin eram vistos pela comunidade como uma "boa família cristã", e que "Deus os convocou" para ter tantos filhos.

O que pensam os vizinhos

No entanto, um dos vizinhos da casa dos Turpin disse à agência de notícias Reuters que a família "era uma daquelas sobre a qual realmente não se sabia nada".

"Olhando em retrospecto, jamais imaginaríamos algo assim, mas havia sinais de alerta. Não há como você nunca ver ou ouvir nove crianças", disse Kimberly Milligan.

Essa vizinha lembrou que, em uma ocasião, cumprimentou algumas da crianças enquanto elas colocavam decorações de Natal nos arredores da casa.

Ao vê-la, contou, os irmãos permaneceram imóveis, "como se quisessem ficar invisíveis".

Andrew Santillan, que também vive na vizinhança, disse à rede CBS que nem sabia que havia crianças e adolescentes na casa.

Nicole Gooding, que vive no bairro há três anos, disse à Reuters que viu a família a primeira vez dois meses trás, quando mãe e filhos estavam limpando o jardim.

Um advogado que representou o casal em sua última declaração de falência, Ivan Trahan disse ao jornal Los Angeles Times que ele e a mulher sempre viram os Turpin como "pessoas muito agradáveis, que falavam muito bem de seus filhos".