Saúde

Tuberculose: a doença infecciosa que dizima milhões de pessoas todos os anos

Por 7Segundos 24/03/2018 07h07
Tuberculose: a doença infecciosa que dizima milhões de pessoas todos os anos
Tratamento tem duração de seis meses - Foto: Ilustração

Com registros de sua existência há mais de seis mil anos, o tratamento para a Tuberculose tem pouco mais de cinco décadas de existência. O preconceito sobre a doença infecto-contagiosa foi um dos principais fatores que prejudicaram o avanço dos cientistas para encontrar a cura para a enfermidade que em pleno século XXI ainda mata mais pessoas do que qualquer outra doença causada por um germe isolado.

Medindo apenas dois milésimos de centímetro, os bacilos são transportados por meio partículas úmidas que pairam no ar, capazes de permanecer suspensos por horas, podendo ser inalados a qualquer momento pelos humanos à sua volta. Outros possíveis reservatórios são gado bovino, primatas, aves e outros mamíferos.

No século XIX, o tratamento usual recomendado pelos médicos era a ‘mudança de clima’. Os pacientes eram orientados a migrar para o litoral ou regiões montanhosas. Travesseiros de folhas de pinheiro para dormir ou algas marinhas para colocar debaixo da cama eram a solução para aqueles que já estavam em estágios mais graves e não tinham condições de viajar.

A descoberta
A bactéria causadora da Tuberculose é chamada de bacilo de Koch e recebeu esse nome em homenagem ao bacteriologista alemão e seu descobridor, Robert Koc. Seu nome científico é Mycobacterium tuberculosis. A descoberta foi em 1882, mas seu diagnóstico ocorreu alguns anos antes, em 1824, depois da descoberta do estetoscópio. A enfermidade afeta principalmente os pulmões, mas pode atingor órgãos como os rins, intestinos e também ossos e testículo.

Foi também no fim do século XIX, com a descoberta do raio X e a reprodução de imagens das partes internas do corpo, que o diagnóstico da Tuberculose - e também de outras enfermidades – passou a ser mais facilmente apontado. Mas essa descoberta não resolveu o problema da cura. Mais de 60 anos depois ainda não havia um tratamento eficaz para a doença.

Somente após a descoberta da estreptomicina outras drogas surgiram e se comprovou que elaseliminavam os germes sem matar as pessoas infectadas, mas com o passar dos anos, os pacientes tratados sentiam-se melhor apenas nos primeiros dois meses e, logo depois, tosse e fraqueza, voltavam. Os cientistas descobriram que os micróbios continuavam vivos e que, portanto, a droga não surtia mais efeito. Os cientistas concluíram que com o passar dos anos surgiram linhagens resistentes à droga e agora os micróbios tinham mais espaço para crescer e também mais 'alimentos' para comer.

Disseminação
O crescimento desordenado das cidades, a pobreza, a dificuldade em conseguir os medicamentos e a dificuldade de tomar drogas por tanto tempo - ao mesmo tempo em que o HIV se espalhava pelo norte da América e também pela Europa - fez reascender o número de mortes. O Tratamento Diretamente Observado (TDO), direcionado para pacientes com a enfermidade, trouxe aos EUA a possibilidade de reverter o problema em 1993, quando os índices foram reduzidos. Isso porque, naquele país e na Europa Ocidental o percentual de infectados cresceu de 1979 até 1987 em 45%.

Em 24 de março, de 1982, a Organização Mundial de Saúde criou o Dia Mundial de Combate à Tuberculose. A data faz menção ao dia da descoberta do bacilo de Koch, ocorrida exatamente cem anos antes.

Dias atuais
Mas se os dados parecem alarmantes para essa época, o que dizer dos números atuais? A Organização Mundial da Saúde divulgou dados assustadores referentes ao ano de 2016. Pelo menos cinco mil pessoas por dia morrem de Tuberculose em todo o mundo. No mesmo ano o número ultrapassou 1,6 milhão no período de 12 meses. 1/3 das mortes ocorridas nas Américas foram registradas no Brasil. É nesse mesmo continente que ocorre mais de 40% do total de mortes.

Diagnóstico
Como a doença é facilmente confundida com a gripe, seu diagnóstico às vezes é demorado e o contágio (transmissão) se dá sem esforço. O Hospital Miguel Arraes (HMA), em Paulista, no estado vizinho de Pernambuco, divulgou um alerta sobre os sintomas da doença que vão da tosse seca ou com secreção (com duração de mais de três semanas), até febre, rouquidão e falta apetite.

O hospital também ensina como evitar a doença e explica que imunizar as crianças no primeiro ano de vida com a vacina BCG (Bacillus Calmette-Guérin), -ofertada gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS) - ainda é a maneira mais eficaz. A vacina protege as formas mais graves da doença. O alerta continua: “Já o diagnóstico precoce continua sendo a melhor forma de prevenir a transmissão da doença, iniciando o tratamento adequado o mais rápido possível. Com 15 dias após iniciado o tratamento, a pessoa já não transmite mais a doença. O tratamento deve ser feito por um período mínimo de seis meses, diariamente e sem nenhuma interrupção. A prevenção inclui evitar aglomerações, especialmente em ambientes fechados, mal ventilados e sem iluminação solar. A tuberculose não se transmite por objetos compartilhados. O tratamento só termina quando o médico confirmar a cura total do paciente”, diz a nota.

Já sobre o contágio, o Ministério da Saúde alerta o seguinte:

A tuberculose é uma doença de transmissão aérea - ocorre a partir da inalação de aerossóis. Ao falar, espirrar e, principalmente, ao tossir, as pessoas com tuberculose ativa lançam no ar partículas em forma de aerossóis que contêm bacilos.

Calcula-se que, durante um ano, numa comunidade, um indivíduo que tenha baciloscopia positiva pode infectar, em média, de 10 a 15 pessoas. Bacilos que se depositam em roupas, lençóis, copos e outros objetos dificilmente se dispersam em aerossóis e, por isso, não desempenham papel importante na transmissão da doença. Embora o risco de adoecimento seja maior nos primeiros dois anos, uma vez infectada, a pessoa pode adoecer em qualquer momento de sua vida.

A transmissão da tuberculose é plena enquanto o indivíduo estiver eliminando bacilos. Com o início do esquema terapêutico adequado, a transmissão tende a diminuir gradativamente e, em geral, após 15 dias de tratamento chega a níveis insignificantes. No entanto, o ideal é que as medidas de controle de infecção sejam implantadas até que haja a negativação da baciloscopia. Crianças com tuberculose pulmonar geralmente são negativas à baciloscopia.

O tratamento tem duração de seis meses, é feito por meio de antibióticos de uso oral ou injetável diário. O remédio é disponibilizado gratuitamente pelo SUS.

Maceió
Na capital, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) realizou na sexta-feira (23) uma ação pública para conscientizar e prevenir a tuberculose. A atividade ocorreu no II Centro de Saúde, no bairro do Poço. A Sesau usou carro de som com uma gravação contendo informações sobre a doença, além de agentes de saúde que distribuíram panfletos educativos na Praça Maravilha.

Artistas
O cantor de pagode Thiaguinho foi diagnosticado com Tuberculose em julho de 2013 e em 2014 fez um depoimento em vídeo para o Ministério da Saúde. nas imagens usada como campanha ele relata como reagiu ao saber que estava infactado e como se recuperou da doença. O cantor abriu mão do cachê e doou o dinheiro para instituições beneficentes.

O zagueiro da Seleção Brasileira de Futebol, Thiago Silva, que também atua no Paris Saint-Germain ao lado do atacante Neymar Junior, foi diagnosticado em 2017 com a mesma doença, depois de uma temporada na Rússia.

Assista vídeo

Surto
No início de março o 7Segundos chegou a relatar a possibilidade de um surto da doença na cidade sertaneja de Delmirou Gouveia. Nove pessoas foram diognosticadas em 54 dias. Procurada por nossa equipe, a Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas (Sesau), informou que o quadro não caracteriza Delmiro como um município endêmico.