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Polícia encontra mais um corpo e investiga relação com chacina com 7 mortos em Viamão

Por G1 19/06/2018 16h04
Polícia encontra mais um corpo e investiga relação com chacina com 7 mortos em Viamão
Corpo foi encontrado na Vila Augusta, em Viamão - Foto: Guacira Merlin/RBS TV

O corpo de um homem foi encontrado na tarde desta terça-feira (19) em um arroio na Vila Augusta, em Viamão, cidade da Região Metropolitana de Porto Alegre onde sete pessoas foram mortas na noite de segunda (18). Segundo o delegado regional Carlos Wendt, o local onde o cadáver foi achado fica próximo de onde ocorreram os assassinatos.

O delegado, porém, ainda não confirma se a morte tem relação com a chacina, mas investiga essa possibilidade pelas características do caso.

"Estamos avaliando ainda, é [uma morte] recente e ocorreu perto do local das outras mortes", resumiu ao G1.

O Instituto Geral de Perícias (IGP) foi acionado e a área está isolada. De acordo com a polícia, as sete mortes ocorreram no mesmo horário em três pontos localizados em um raio de 50 metros. Os locais ficam em regiões onde ocorre a venda e consumo de drogas.

É a maior chacina em três anos no estado, informou ao G1 a Divisão de Planejamento e Coordenação, da Polícia Civil. Antes dessa, a maior havia sido em abril de 2015, em Cidreira, no Litoral Norte, quando seis pessoas foram executadas.

O delegado Gabriel Oliveira Bicca, diretor da Divisão de Homicídios da Polícia Civil, afirmou que a chacina foi uma das maiores já vistas no estado. Segundo ele, não é possível precisar desde quando não há um número tão expressivo de mortes no mesmo crime, mas afirma que o número de chacinas no estado tem aumentado gradualmente.

"Isso aconteceu porque se perdeu a figura do inimigo. Não tem mais uma pessoalização, de ter rixa com fulano, ela passou a ser com fulanos, de determinado grupo criminoso, e agora até mesmo com a população de uma determinada área. Por isso há essa generalização, um aumento da violência banal, porque às vezes nem importa se a pessoa morta tinha ligação com o grupo crimoso rival, mas por morar naquele local determinado pela facção inimiga já se torna um alvo", pontuou Bicca.

Policiamento reforçado

O policiamento na cidade será reforçado após os crimes. A medida foi determinada pelo secretário estadual da Segurança Pública, Cezar Schirmer, na manhã desta terça (19).

Conforme as autoridades locais, existe uma disputa territorial pelo tráfico de drogas por parte de organizações criminosas da região. Para conter o crescimento da violência no município de pouco mais de 250 mil habitantes, policiais militares serão deslocados do Batalhão de Operações Especiais (BOE) da Brigada Militar de Porto Alegre e de pelotões de choque de outros batalhões da Região Metropolitana. O número total de PMs que irão atuar na cidade não foi informado.

Além disso, conforme anunciado pelo delegado Emerson Wendt, chefe da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, será disponibilizado um efetivo temporário de cinco agentes para ajudar a agilizar as investigações relacionadas à chacina. A equipe deve atuar na cidade por, pelo menos, 15 dias.

Viamão é uma das cidades mais violentas do Rio Grande do Sul. De acordo com o Atlas da Violência, divulgado na sexta-feira (15) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Viamão tem a maior taxa de homicídios para cada 100 mil habitantes do estado, com 77,1 casos – superior a Alvorada (71,8 casos), Porto Alegre (58,1 casos) e Sapucaia do Sul (50,4 casos) – e é a 21ª com o maior índice no país.

Conforme a Secretaria Estadual da Segurança Pública, Viamão é o quinto município no estado com o maior número de vítimas de homicídios dolosos até maio deste ano. Foram 45 vítimas, em 39 casos. A cidade fica atrás apenas de Porto Alegre (268 mortos), Alvorada (69), Canoas (53) e Pelotas (46).

Os mortos

As vítimas são quatro mulheres e três homens.

A primeira das sete vítimas foi morta na Rua Araranguá, e identificada como Cláudio Roberto Gonçalves, de 38 anos. Em seguida, três foram executadas na Rua Guarapari: Douglas da Costa Orguin, de 19 anos, que estava no pátio de uma casa, além de Greice Kelly da Mota Jorge, de 28 anos, e Stefânia Carvalho da Silva, de 20 anos, que estavam no interior da residência.

Outras três pessoas foram mortas na Rua Professor de Freitas Cabral, e duas delas foram identificadas: Graziela da Silva Santos e Frank Bruno, ambos sem idade confirmada. A polícia ainda apura qual a relação entre as vítimas.

Segundo as autoridades, três dos mortos não tinham antecedentes criminais. Uma das mulheres mortas usava uma tornozeleira eletrônica.

Moradores de Viamão optaram pelo silêncio por medo da violência. A hipótese inicial é de que as execuções tenham relação com a disputa entre facções criminosas.

Outras chacinas no RS

O mais recente Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em outubro de 2017, indicou que o Rio Grande do Sul foi o segundo estado do país com mais chacinas em 2016. A maior parte desses crimes aconteceu em Porto Alegre e cidades da Região Metropolitana, e a polícia acredita que as mortes violentas tenham relação com a disputa pelo poder entre facções criminosas.

São caracterizados como chacina crimes com três ou mais mortes. No ano contabilizado pelo anuário, foram 26 casos, com 90 pessoas mortas, enquanto em 2015 foram 15 ocorrências, com 50 mortos.

Além do caso de Cidreira, em 2016, outra chacina que demandou ampla ação policial aconteceu em novembro daquele mesmo ano, quando quatro pessoas foram mortas por um agricultor em Pinhal Grande, na Região Central do estado. Na semana passada, ele foi condenado a 128 anos de prisão em regime fechado.

Neste ano, pelo menos duas chacinas foram registradas em Porto Alegre, em diferentes regiões da capital gaúcha. A primeira delas aconteceu em março, no bairro Lomba do Pinheiro, na Zona Leste, onde dois homens e uma mulher foram mortos a tiros. No último fim de semana, mais um caso foi contabilizado, com quatro mortes no bairro Belém Velho, na Zona Sul da cidade.