Saúde

Siamesas unidas pela cabeça passam por 3ª cirurgia de separação em Ribeirão Preto

Operação no Hospital das Clínicas da USP conta com 30 profissionais e deve durar oito horas. Gêmeas, de 2 anos, serão submetidas a mais duas cirurgias, até a separação total em novembro

Por G1 04/08/2018 09h09
Siamesas unidas pela cabeça passam por 3ª cirurgia de separação em Ribeirão Preto
Gêmeas passam por terceiro procedimento cirúrgico. - Foto: Reprodução/Internet

As gêmeas siamesas Maria Ysabelle e Maria Ysadora, de 2 anos, que são unidas pelo topo da cabeça, passam pela terceira cirurgia de separação no Hospital das Clínicas da USP em Ribeirão Preto (SP) neste sábado (3). A operação deve durar oito horas e envolve cerca de 30 profissionais de diferentes áreas.

Estão previstas cinco etapas até a separação total, que deve acontecer em novembro deste ano. A família, que é de Patacas, distrito de Aquiraz (CE), está morando temporariamente no campus da USP, já que não são recomendadas viagens durante o processo de separação.

O procedimento inédito no Brasil está sendo realizado pela equipe comandada pelo professor chefe do Departamento de Neurocirurgia Pediátrica, Hélio Machado, e que conta com o cirurgião norte-americano James Goodrich, referência mundial no assunto.

Goodrich viajou dos Estados Unidos para Ribeirão, onde chegou nesta sexta-feira (3). Também integrante do grupo de especialistas, o neurocirurgião Eduardo Jucá afirma que a terceira operação é uma continuação das outras duas, realizadas em fevereiro e maio desse ano.

“Em cada uma dessas três primeiras etapas, ocorre a separação de veias, artérias e do cérebro. Mas, elas continuam unidas pelo crânio. Depois de veias e o cérebro separados, na quarta etapa, é que haverá a separação real, de corpos”, explica.

Coordenador do serviço de neurocirurgia do Hospital Infantil Albert Sabin, em Fortaleza (CE), Jucá acompanhou as siamesas desde o nascimento e foi responsável pelo encaminhamento delas ao HC em Ribeirão Preto, onde concluiu a graduação.

Segundo o neurocirurgião, as gêmeas devem ser totalmente separadas em novembro, quando ocorrerá a cirurgia mais complexa de todas. Jucá afirma que as irmãs tem boa saúde e estão se recuperando bem, o que dá otimismo à equipe médica.

“Sem dúvida, riscos existem, mas são os mesmos das outras duas, porque essa cirurgia é bem parecida com as demais. Mas, elas estão muito bem de saúde, estão respondendo bem ao processo de separação e isso é muito bom”, diz.

Jucá explica que antes da última etapa, as siamesas devem passar por uma operação intermediária, realizada pela equipe de cirurgia plástica, em que serão implantados expansores de pele, com o intuito de garantir a cobertura do crânio ao final da separação.

“Depois, para cobrir a cabeça de cada uma, vai precisar de pele. Então, essa cirurgia é mais restrita. Esse procedimento já é feito para outros tipos de problema, por exemplo, em pessoas queimadas, tumores de pele. É um procedimento que já existe”, afirma.

Trajetória

Pai das siamesas, Diego Freitas Farias contou ao G1 que a gravidez da mulher sempre foi considerada normal pelo médico que a acompanhava. No sexto mês de gestação, o casal foi para Fortaleza (CE) e a mãe passou por um exame morfológico, mas nada foi identificado.

Somente no oitavo mês, após novos exames, os médicos confirmaram que as irmãs estavam unidas pela cabeça, mas tinham cérebros independentes, o que permitiria a separação dos corpos após o nascimento.

As gêmeas nasceram no Hospital Geral Doutor César Cals, na capital cearense, e depois foram transferidas para o Hospital Infantil Albert Sabin, na mesma cidade, onde ficaram internadas por cerca de três meses.

Após uma análise aprofundada, a equipe concluiu que era possível realizar a separação das gêmeas. Mas, seriam necessárias diversas cirurgias. Em cada uma delas, os médicos iriam abrir uma parte diferente do crânio e separar os vasos sanguíneos interligados.

Para facilitar a logística, o casal se mudou em janeiro deste ano para Ribeirão Preto. A família passou a viver provisoriamente nos fundos de uma casa usada pelo Grupo de Apoio ao Transplantado de Medula Óssea (Gatmo), dentro do campus da USP.

A primeira operação ocorreu em 17 de fevereiro e durou cerca de sete horas. A segunda cirurgia, em 19 de maio, teve duração de oito horas.Segundo os médicos, as meninas se alimentam, respiram, se comunicam e têm desenvolvimento normal, como qualquer criança da idade delas.