Alagoas

Pesquisa revela altos índices de acidentes de trabalho com pescadores do litoral alagoano

Os dados são do Laboratório de Ictiologia e Conservação da Ufal em Penedo

Por 7Segundos, com UFAL 05/12/2018 12h12
Pesquisa revela altos índices de acidentes de trabalho com pescadores do litoral alagoano
Segundo o levantamento, foram identificados 1.242 acidentes, sendo 752 por peixes, 345 por cnidários e equinodermos e 145 por materiais de pesca - Foto: Cortesia/UFAL

Um estudo realizado por pesquisadores do Laboratório de Ictiologia e Conservação da Ufal em Penedo, revelou altos índices de acidentes de trabalho e dificuldades enfrentadas pelos pescadores do litoral alagoano.

A pesquisa descreve o perfil socioeconômico dos pescadores durante o período de 2013 a 2015. Dados foram coletados nos municípios de Maceió, Maragogi, Japaratinga, Porto de Pedras, Barra do Camaragibe, Barra de Santo Antônio, Paripueira, Marechal Deodoro, Pontal do Coruripe, Feliz Deserto e Pontal do Peba, e 168 trabalhadores da pesca foram entrevistados.

“O objetivo foi conhecer a socioeconomia dos pescadores artesanais e os acidentes de trabalho envolvendo organismos marinhos, uma vez que nada era conhecido sobre as espécies envolvidas nos acidentes, os impactos na renda mensal, tratamentos e prevenção”, explica o professor Cláudio Sampaio, doutor em Zoologia e um dos responsáveis pelo estudo.

Os resultados obtidos, “revelaram altos índices de acidentes de trabalho e foram confirmadas dificuldades enfrentadas pelos pescadores, sendo possível afirmar que os riscos aos quais se submetem são potencializados por suas condições de trabalho e vida”.

O conhecimento em relação aos primeiros socorros, prevenção de acidentes, baixo grau de instrução, pouco acesso à saúde e baixa qualidade de vida são fatores que agrava mais ainda a excessiva jornada de trabalho dos pescadores, segundo a pesquisa.

Ainda de acordo com o levantamento, foram identificados 1.242 acidentes, sendo 752 por peixes, 345 por cnidários e equinodermos e 145 por materiais de pesca.

“Os bagres foram os maiores responsáveis pelos acidentes, em todas as localidades do litoral alagoano”, relata Claudio Sampaio. Conforme informações do estudo, os bagres foram responsáveis por 54% dos acidentes, sendo as ferroadas, com 77,7%, o ferimento mais frequente, atingindo principalmente os membros superiores e inferiores (95,5%).

O doutor em Zoologia explicou ainda que os acidentes ocorrem durante o manuseio ou quando o trabalhador pisa no animal durante a atividade pesqueira.

Ainda segundo os dados, o maior número de acidentes com caravela (também conhecida por água-viva) foi registrado em Paripueira (49,1%), seguido por Pontal do Peba (20,2%) e Marechal Deodoro (13,3%). Já os casos envolvendo ouriços do mar foram em maior número em Paripueira (51,2%), Marechal Deodoro (35,5%) e Barra de Santo Antônio (7%).

O impacto dos acidentes na renda mensal

A falta de uso de equipamentos de proteção individual foi apontada pela pesquisa como um dos principais fatores que causam acidentes, com o percentual de 58% dos entrevistados, que afirmaram a situação.

Dos acidentados, 62,4% ficaram afastados do trabalho pelo período de um a quatro meses e a pesquisa revelou que a maioria que sofreu algum tipo de acidente conseguiu retomar as atividades profissionais da pesca. “Cerca de 16% dos pescadores acidentados passaram mais de um ano e cinco mesmo para retornar as atividades, causando problemas econômicos para toda a família”, acrescentou Sampaio.

Subnotificação dos casos de acidentes

De acordo com informações do levantamento, apenas 39% dos entrevistados procuraram atendimento médico após sofrer acidente com algum animal marinho durante o trabalho de pesca.

O professor alerta que casos de acidentes com pescadores e animais marinhos são subnotificados em Alagoas. Conforme indica o estudo, "não há registros sobre atendimentos às vítimas desses acidentes nas Unidades de Saúde visitadas pelos pesquisadores".

“Infelizmente, é um tema ainda pouco conhecido. Isso prejudica uma melhor avaliação do problema, que é grande e amplamente distribuído no litoral alagoano, além de reduzir o interesse dos profissionais da saúde para esse importante problema social”, afirmou o pesquisador.