Brasil

Centro espírita de João de Deus pode ser interditado, segundo o MP de Goiás

O médium foi acusado, em um programa de TV, de cometer abusos sexuais dentro do centro

Por O Globo 10/12/2018 10h10
Centro espírita de João de Deus pode ser interditado, segundo o MP de Goiás
Promotores e psicólogos irão investigar as denúncias que estão chegando de diversas partes do Brasil e do mundo contra o líder religioso - Foto: Reprodução/TV Globo

O Ministério Público do Estado de Goiás estuda interditar a Casa de Dom Inácio de Loyola, centro espiritual onde o médium João Teixeira de Farias, conhecido mundialmente como João de Deus, atende semanalmente milhares de fiéis.

Como revelou O GLOBO e o programa “Conversa com Bial”, da TV Globo, mulheres acusaram o médium de abusos sexuais que teriam acontecido dentro do centro espiritual, localizado na pequena cidade de Abadiânia, no Interior de Goiás.

O promotor Luciano Miranda Meirelles, coordenador do Centro de Apoio Criminal do MP de Goiás, afirmou que João de Deus, de 76 anos, será convocado para prestar depoimento assim que o órgão começar a coletar os primeiros depoimentos das vítimas.

“Se for determinado que aquele lugar (centro espiritual) é um local de crimes, a interdição será necessária”, destacou.

Na manhã desta segunda-feira (10), o Ministério Público em Goiás formalizou a criação de uma força-tarefa, composta por quatro promotores e dois psicólogos, para investigar as denúncias de abuso sexual que estão chegando de diversas partes do Brasil e do mundo contra o líder religioso. Ainda de acordo com o MP, toda investigação será concentrada na força-tarefa.

“Sabemos inclusive que há vítimas no Brasil inteiro e fora do país. Não vai ser necessário que elas venham até Goiás, elas podem procurar o MP nas suas localidades. Após a reportagem a gente se organizou e montou uma força-tarefa. Passamos o fim de semana analisando como ela funcionaria”.

De acordo com o MP, Ministério Públicos de diversos estados do país irão colaborar com as investigações. Em pelo menos dois estados, Minas Gerais e São Paulo, vítimas procuraram o ministério público logo após os casos de outras mulheres terem vindo à tona por meio de reportagem da TV Globo e do Jornal O GLOBO. Já há depoimentos marcados, nesses estados, para acontecer amanhã segundo o MP.

“Estamos recebendo a informação que depoimentos foram agendados em outros estados. Já há depoimentos marcados para amanhã. Esperamos que isso ajude as vítimas a procurarem o MP. Elas são as vítimas, elas não são culpadas. Sei que há medo, há temor em crimes dessa natureza. Mas o Ministério Público vai dar a proteção que for necessária”, completou o promotor.

A promotora Patrícia Otoni, que também irá compor a força-tarefa, destaca que um e-mail foi criado especificamente ([email protected]) para receber as denúncias sigilosas. Somente os promotores da força-tarefa terão acesso a esses e-mails, para garantir a preservação da identidade das vítimas.

“Em crimes desse tipo, as vítimas demoram um tempo até ter coragem de denunciar. É importante que elas se sintam encorajadas. Nós montamos essa força-tarefa para ampará-las nesse depoimento, e para que elas possam se sentir seguras, para que os crimes sejam apurados. Estamos em contato com promotores do Brasil inteiro”, explicou.

Telefone do MP não para de tocar

Luciano ressaltou que os depoimentos das vítimas, em casos como este, são tratados pelo MP com sobrevalor.

“Estupro não é um crime que acontece a luz do dia. O depoimento da vítima tem sobrevalor, então não tem porque a gente duvidar das mulheres. Elas não vêm aqui a troco de nada. O depoimento da vítima pode ser o único meio para levar à condenação”.

Segundo o MP de Goiás, desde quando as reportagens foram veiculadas, o telefone do órgão não parou de tocar.

“As vítimas estão ligando de todo o país. Se for necessário, podemos aumentar o tamanho da força-tarefa para dar conta do trabalho”, completou Patrícia.