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"Tinha que transar com 15 pessoas por dia quando era escrava sexual"

Maria foi escrava sexual na Suíça, nos anos 1990

Por Universa 30/12/2018 09h09
'Tinha que transar com 15 pessoas por dia quando era escrava sexual'
Maria Alves (foto) tem 47 anos e viveu por dois como escrava sexual - Foto: Arquivo Pessoal

A fala pausada não conseguiu fazer a segurança Maria Alves, de 47 anos, conter as lágrimas durante a conversa. Alguns segundos em silêncio foram interrompidos por mim: "Se você preferir, a gente pode falar em outro momento". "Não", disse ela, com uma repentina voz firme. "Eu me emociono, mas quero falar sobre isso". 

Maria foi escrava sexual na Suíça, nos anos 1990. Ela passou dois anos trancada em um apartamento que tinha o tamanho de um quarto, sob efeito de heroína, que conseguia com os clientes que passavam diariamente por lá. Ela atendia, em média, 15 pessoas todos os dias, entre homens e mulheres de diversos lugares do mundo, mas não via a cor dos 300 francos suíços que, deldeles, eram cobrados por hora. À época, o valor equivalia a R$ 600".

"Desde meus 17 anos, trabalhei em casas de prostituição de luxo. Eu só saía com homens ricos, como médicos e delegados, e, por isso, consegui fazer um bom pé de meia. Em uma das casas de prostituição em que trabalhei, ouvi de um colega sobre a possibilidade de ser garota de programa na Suíça. Aquilo fez meus olhos brilharem. Ele conhecia a cafetina que importava as meninas --ela é brasileira e, apesar de morar em Lugano, vinha para o Brasil com frequência. Ela comandava o negócio junto com o marido.

Pensei que seria uma boa ideia, mas mal sabia eu que embarcaria para o inferno. Ele me apresentou a essa mulher, que ficou responsável por cuidar dos trâmites legais até que eu embarcasse. Ela me ajudou a tirar o passaporte e arcou com os custos da viagem.

Morávamos eu, a cafetina e mais duas garotas de programa em um apartamento pequeno. As portas ficavam trancadas e éramos proibidas de sair; éramos ameaçadas de morte caso tentássemos fugir. Eles diziam: 'Vamos sumir com o seu corpo'. Pela minha hora, ela cobrava dos clientes 300 francos suíços, só que eu não via a cor do dinheiro. Ela justificava que eu precisava pagar pelos custos da viagem e pelo aluguel do apartamento, que custava 150 francos suíços por dia. Dizia que eu comia e bebia de graça, por isso precisava prestar contas.

Foi quando me dei conta de que eu havia sido transformada em uma escrava sexual. Eu não tinha vida além daquilo. Não podia sair de casa, mal via a luz do sol. As portas ficavam trancadas. Transava com 15 pessoas por dia, em sua maioria homens, cujos rostos eu, muitas vezes, nem via. Ficava de costas deitada na cama, eles entravam, me penetravam e iam embora. Eu não tinha folga, tinha que transar até quando estava menstruada. Era uma humilhação constante. Dormia no mesmo quarto que as outras meninas, muitas vezes no chão, enquanto elas atendiam.

Fiquei presa por dois anos, vivendo à base de heroína para aguentar aquela vida. Muitos clientes levavam drogas e eu aproveitava. Estava sempre louca, em outra realidade, tentando fugir da minha. Por sorte, nem todos que consumiam o negócio eram pessoas ruins. O pagamento era feito à cafetina antes de os clientes entrarem no quarto, mas alguns deixavam uma caixinha para mim, normalmente 50 francos suíços. Ninguém podia ver, senão eu seria morta. Por isso, guardava o dinheiro em uma camisinha masculina e enfiava na vagina, bem lá no fundo. 

Comecei a perceber que qualquer coisa seria melhor do que aquela vida. Aproveitei a sorte: um dia, a cafetina e o marido saíram e esqueceram a porta destrancada. Não pensei duas vezes: muito drogada, corri para o meio da rua e comecei a gritar pedindo para ser deportada. Não deu outra: a polícia logo me encontrou e, como estava sob efeito de drogas ilícitas, fui mandada de volta para o Brasil.

É claro que não denunciei essa máfia para a polícia suíça. Se eu denunciasse, eles me matariam, não importa onde. Não dá para mexer com isso.