Política

Bolsonaro diz que segunda-feira é “dia do fico ou não fico” para Vélez e aprofunda crise no MEC

Presidente sinaliza que deve demitir ministro da Educação

Por El País 05/04/2019 17h05
Bolsonaro diz que segunda-feira é “dia do fico ou não fico” para Vélez e aprofunda crise no MEC
O ministro da Educação, Ricardo Vélez - Foto: Amanda Perrobelli/ Reuters

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta sexta-feira que pode demitir o ministro da educação, o colombiano Ricardo Vélez, na próxima segunda-feira, 8 de abril. Em raro encontro com jornalistas em Brasília, o capitão da reserva reconheceu que a condução da pasta “não está dando certo”. “Ele é bacana e honesto, mas está faltando gestão, que é coisa importantíssima”, disse Bolsonaro. O presidente deixou, no entanto, o afastamento definitivo do ministro no ar: "Tira a aliança da mão direita e põe na esquerda ou põe na gaveta. Vamos supor que seja a saída dele. Segunda é o dia do fico ou não fico".

A afirmação de Bolsonaro vem dias após ele afirmar que a demissão de Vélez, antecipada pela colunista da TV Globo Eliane Cantanhênde, era "fake news". "Sofro fake news diárias como esse caso da 'demissão' do Ministro Vélez. A mídia cria narrativas de que NÃO GOVERNO, SOU ATRAPALHADO, etc", escreveu em sua conta no Twitter.

O ministro, que participa de evento com empresários em Campos de Jordão, no Estado de São Paulo, reagiu. "Eu, pessoalmente, não tenho notícia disso. Pergunta a quem é de direito, quem falou isso. Eu pretendo participar do fórum [do grupo Lide] e não vou entregar o cargo", afirmou. Vélez já passava por um processo de fritura no Governo após entrar em atrito com a ala militar e também com o guru ideológico de Bolsonaro, o filósofo Olavo Carvalho, responsável por indica-lo para a pasta. Caso se confirme sua demissão ele será o segundo ministro a ser sacado pelo Planalto em menos de 100 dias - em fevereiro Gustavo Bebianno, então responsável pela Secretaria de Governo, foi demitido após entrar em atritos com os filhos do presidente.

A polêmica mais recente do colombiano foi uma afirmação de que os livros didáticos de história usados nas escolas poderiam ser revistos no sentido de tratar o golpe de 1964, que instaurou a ditadura militar no país, como um "movimento da sociedade". Ao jornal Valor Econômico ele afirmou que “não houve golpe em 31 de março de 1964 nem o regime que o sucedeu foi uma ditadura”. A fala de Vélez não encontra respaldo na historiografia, e contraria diversos pareceres oficiais que vão no sentido contrário. "A história brasileira mostra que o 31 de março de 1964 foi uma decisão soberana da sociedade brasileira. Quem colocou o presidente Castelo Branco no poder não foram os quartéis", disse.

Para os militares, que se opuseram até mesmo à decisão de Bolsonaro de incentivar celebrações da data nos quartéis, a fala de Vélez provoca desgaste desnecessário e tira o foco das prioridades do Governo, como a Reforma da Previdência. Alguns apontaram que foi uma tentativa frustrada do ministro de se aproximar do núcleo verde-oliva do Governo.

Antes deste episódio, no entanto, Vélez já enfrentava dificuldade no comando da pasta com uma série de decisões polêmicas. Em fevereiro ele enviou circular para as escolas pedindo que os alunos fossem filmados cantando o hino e entoando o slogan de campanha de Bolsonaro. A medida é ilegal, uma vez que envolve o direito de imagem de milhares de crianças menores de 18 anos. Dias depois, no início de março, uma série de exonerações deixou o ministério acéfalo e mergulhado em disputas internas, com importantes quadros como a secretária de Educação Básica, Tania Leme, pedindo demissão. A criação de uma subpasta da alfabetização, considerada um ponto prioritário para o ministro, também foi alvo de críticas por parte de integrantes da pasta.