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Beth Carvalho morre no Rio aos 72 anos

O último show da sambista, de 72 anos, no Rio de Janeiro, foi em outubro do ano passado, no Oktoberfest Rio

Por Extra 30/04/2019 18h06
Beth Carvalho morre no Rio aos 72 anos
Beth Carvalho morre aos 72 anos - Foto: Agência o Globo

A cantora Beth Carvalho morreu nesta terça-feira (30) depois de dois meses internada. A informação foi confirmada pelo empresário da sambista, Afonso Carvalho. Em seu comunicado, ele afirmou que Beth, de 72 anos, morreu às 17h33m cercada de do amor de seus familiares e amigos.

"Agradecemos todas as manifestações de carinho e solidariedade nesse momento. Beth deixa um legado inestimável para a música popular brasileira e sempre será lembrada por sua luta pela cultura e pelo povo brasileiro. Seu talento nos presenteou com a revelação de inúmeros compositores e artistas que estão aí na estrada do sucesso. Começando com o sucesso arrebatador de “Andança”, até chegar a Marte com “Coisinha do Pai”, Beth traçou uma trajetória vitoriosa laureada por vários prêmios, inclusive um Grammy pelo conjunto da obra. Assim que possível, informaremos sobre o sepultamento", disse no comunicado.

Na segunda-feira (29), a apresentação da cantora Beth Carvalho, que estava marcada para o dia 5 de maio, dia do aniversário dela, na casa de shows Vivo Rio, foi cancelada por recomendações médicas. A sambista estava internada num hospital da Zona Sul do Rio de Janeiro há dois meses. O Vivo Rio informou que os ingressos adquiridos serão reembolsados.

O último show da sambista, de 72 anos, no Rio de Janeiro, foi em outubro do ano passado, no Oktoberfest Rio. Durante toda a apresentação, ela esteve deitada numa cama. Há anos, ela enfrenta problemas na coluna que, cada vez mais, limitam sua locomoção e provocam internações. No início deste ano, Beth esteve internada num hospital da Zona Sul para tratar, mais uma vez, do problema de saúde.

Os contos foram produzidos nas oficinas de criação da Festa Literária das Periferias (FLUP), no Rio de Janeiro, entre 2017 e 2018. Autores estreantes, moradores das periferias, apresentaram a sua releitura das obras de Bezerra e Martinho, sob supervisão de bambas da literatura – alguns dos quais também escrevem para o livro.

Aonde ela foi, sambista nenhum jamais chegou: Marte. Em 1997, a interpretação de BethCarvalho para “Coisinha do pai”, de Jorge Aragão, foi escolhida pela Nasa para “acordar” o robô Sojourner, enviado em missão ao planeta vermelho.

Beth despertou para o mundo no mesmo lugar que serviu de berço para o samba. Elizabeth Santos Leal de Carvalho nasceu, dia 5 de maio de 1946, no bairro da Gamboa, região portuária do Rio de Janeiro, área onde o samba surgiu, no começo do século passado. Mas Beth foi criada mesmo na Zona Sul, onde desenvolveu três paixões: o Botafogo, a Mangueira e o PDT de Leonel Brizola.

A música estava próxima desde o começo. A avó tocava bandolim e violão; a irmã cantava. Bethouvia desde cedo a Rádio Nacional, mas também tinha música ao vivo em casa. O pai, advogado, era amigo de cantores, que frequentavam a casa da família. Beth ouviu do sofá gente como Silvio Caldas e Elizeth Cardoso.

No carnaval, subia num caixote com a mãe para ver a Mangueira passar, numa época em que a Portela ganhava todos os carnavais. Decorava todos os sambas-enredo do ano. Só ficou difícil quando, aos 17 anos, arrumou um namorado que odiava a folia. Numa terça-feira gorda, ao se ver sozinha em casa, Beth não pensou duas vezes: vestiu a fantasia de havaiana, ligou a TV e sambou até de madrugada.

Apesar de ser intérprete de um ritmo vindo das classes populares, a família de Beth tinha uma vida financeira boa. A menina, ainda criança, estudou balé clássico e frequentou um curso de etiqueta para mulheres. Tinha aulas de como segurar um guarda-chuva, usar garfo e faca e entrar ou sair de um automóvel — com classe.

Só que o golpe militar, em 1964, trouxe problemas para a família da cantora: seu pai, fã de Lênin, foi demitido do cargo que ocupava no Ministério da Fazenda. Aí o dinheiro faltou na casa dos Carvalho. Beth começou a dar aulas de violão para ajudar os pais.

Como cantora, não começou com o samba, mas com a bossa nova. Encantada por João Gilberto, se apresentou com o ritmo em festivais universitários e shows. Chegou a gravar um compacto, em 1965, em que interpretava “Por que morrer de amor?”, de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli. Mas no ano seguinte já se aproximava do ritmo que a consagrou, participando do show “A hora e a vez do samba”, com Nelson Sargento e Noca da Portela.

Fez gravações históricas de mestres do samba, como Nelson Cavaquinho, Cartola, Nelson Sargento e Carlos Cachaça. O desejo de buscar o samba onde ele estivesse a levou à quadra do Cacique de Ramos, em Olaria, no momento em que despontava uma geração de novos talentos ali — e mais que isso, de uma nova forma de tocar samba, usando instrumentos como banjo e repique de mão. Acabou por revelar artistas ligados ao Cacique, como Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Almir Guineto e Jorge Aragão. Ao longo da carreira, continuou a chamar a atenção para novos talentos que surgiam, como Mariene de Castro e Quinteto em Branco e Preto, sem deixar nunca de gravar os bambas pioneiros. Tinha, por isso, o apelido de madrinha, do qual gostava, mas com reservas. Sempre achou um absurdo, no Brasil, artistas como Cartola precisarem de padrinhos para ser reconhecidos.