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Extração de sal-gema provocou fissuras no solo do Pinheiro, diz CPRM

Laudo final foi divulgado durante audiência pública, na manhã desta quarta-feira (8)

Por 7Segundos 08/05/2019 10h10
Extração de sal-gema provocou fissuras no solo do Pinheiro, diz CPRM
Moradores do Pinheiro acompanharam audiência pública - Foto: Kássio Kiss

"Está ocorrendo desestabilização das cavidades da extração de sal-gema, provocando halocinese (movimentação do sal) e criando uma situação dinâmica com reativação de estruturas geológicas preexistentes, subsidência do terreno e deformações rúpteis em superfície de parte dos bairros Pinheiro, Mutange e Bebedouro", é o que aponta o relatório final da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) apresentado em coletiva à imprensa, na manhã desta quarta-feira (8), durante audiência pública no auditório da Justiça Federal.

De acordo com o documento apresentado pelo assessor de Hidrologia e Gestão Territorial da CPRM, Thales Queiroz Sampaio, os danos nos bairros citados são agravados pelos efeitos erosivos provocados pelo aumento da infiltração da água de chuva, em função do aumento significativo da permeabilidade secundária (quebramentos). O processo erosivo, por sua vez, é acelerado pela existência de áreas de alagamento e a falta de uma rede de drenagem pluvial efetiva e de saneamento básico. 

Para chegar a conclusão, os pesquisadores utilizaram diversos métodos científicos que foram interpretados e integrados. Os métodos geofísicos - gravimetria, audiomagnetotelúrico e eletrorresistividade - permitiram a melhor caracterização do subsolo da região estudada. A interferometria, por sua vez, detectou deslocamento da superfície compatível com subsidência por deformação dúctil/rúptil (rochas que se deformam até o limite de ruptura/rochas que se deformam sem romper) das camadas geológicas na região de poços de extração de sal-gema. As observações de campo - trincas, rachaduras e fissuras e áreas alagadas na borda da Lagoa Mundaú-  também apontam deformações compatíveis com a subsidência.

A análise da sismologia mostrou sismos coincidentes com as minas de extração de sal-gema, entre outros localizados no fundo da Lagoa Mundaú e nas áreas mais afetadas do bairro Pinheiro. Pela presença majoritária de energia sísmica em forma de ondas de superfície, os pesquisadores constataram que a fonte sísmica está próxima à superfície e não se trata de um evento tectônico causado por uma falha geológica profunda. A energia identificada nesses sismogramas também comprova a origem rasa desses tremores de terra, pois a energia é inferior aos sismos de origem tectônica. Sendo mais próxima da energia liberada em explosões, colapsos ou desabamentos.

A CPRM também analisou dados de sonares - que foram integrados com informações geológicas e de extração de sal em ambiente 3D. O resultado mostra que há indícios de que a atividade de extração de sal-gema alterou o estado de tensão in situ (natural ou normal) das unidades geológicas, gerando colapso de algumas cavidades e aumentando a instabilidade das unidades. Os pesquisadores da CPRM descartaram a hipótese de extração de água subterrânea nas localidades. 

Com base nos estudos, foi recomendado que sejam tomados alguns cuidados específicos, a exemplo da estabilização dos processos erosivos, saneamento básico, instalação de rede de drenagem eficiente nos bairros e demais obras estruturantes. As atividades previstas no cronograma de trabalho foram concluídas. Além disso, a CPRM está implantando seis poços de monitoramento de água subterrânea, com previsão de término em agosto deste ano. Esses poços irão fazer parte da Rede Integrada de Monitoramento de Água Subterrânea (RIMAS), que conta com 400 poços cadastrados em todo país.