Política

Assessora de Eduardo Bolsonaro atuou em central de ataques apócrifos em SP

A assessoria do presidente Jair Bolsonaro disse que ele não comentaria o assunto

Por FolhaPress 26/10/2019 14h02
Assessora de Eduardo Bolsonaro atuou em central de ataques apócrifos em SP
Deputado Eduardo Bolsonaro durante visita a Washington - Foto: Reuters

Uma assessora do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) participou de uma central de fabricação e distribuição de dossiês e memes (montagens com fotos e textos) apócrifos criada em São Paulo para atacar adversários.

O grupo foi formado pelo deputado estadual Gil Diniz (PSL), o Carteiro Reaça, de acordo com conversas de WhatsApp obtidas pelo jornal Folha de S.Paulo. O parlamentar é considerado o braço direito da família Bolsonaro em São Paulo.

As mensagens foram trocadas no período que antecedeu a eleição para a Mesa Diretora da Assembleia, realizada em 15 de março deste ano, data em que o parlamentar, já diplomado, tomou posse.

Os deputados Cauê Macris (PSDB) e Janaina Paschoal (PSL), correligionária de Diniz, concorreram na eleição para a presidência da Assembleia, vencida pelo primeiro.

Nas conversas, em um grupo da rede social chamado de "Gabinete Gil Diniz", o deputado orienta e discute a confecção das peças apócrifas com ataques a adversários, sobretudo Macris, como revelou a Folha de S.Paulo nesta sexta (25).

Um dos integrantes do grupo é Sonaira Fernandes de Santana, que, à época dos diálogos, era funcionária de Eduardo Bolsonaro na Câmara dos Deputados. Recebia, então, R$ 7.849,15.

Sonaira trabalha pelo menos desde 2015 com os Bolsonaros. Em fevereiro daquele ano, foi nomeada para o gabinete de Eduardo na Câmara dos Deputados.

Três anos depois, em abril de 2018, mudou para o de Jair Bolsonaro, então pré-candidato a presidente. No dia 1º de janeiro de 2019, voltou a trabalhar para Eduardo, ficando no cargo até março, quando, após a eleição para a presidência da Assembleia, passou a assessorar Gil Diniz.

Nas redes sociais, Sonaira exibe fotos ao lado do presidente e de Eduardo. Conta também que esteve no casamento do terceiro filho do presidente. "Casamento do 03. Foi simplesmente emocionante!!! Os votos de felicidade foram entregues pessoalmente", escreveu.

Ao ser questionado pela Folha de S.Paulo sobre o uso de servidores públicos nas montagens, Diniz havia dito que os fatos relatados ocorreram em fevereiro, quando os envolvidos nas conversas não tinham sido ainda nomeados para cargo. "As ações, portanto, foram feitas de maneira voluntária."

Além do deputado Diniz e de Sonaira, então funcionária de Eduardo Bolsonaro, participam das conversas Bruno Costa de Jesus, Felipe Carmona Cantera e Diego Martins dos Santos, o Gaúcho. Após a eleição, todos foram contratados para o gabinete da Assembleia.

À Folha de S.Paulo Gaúcho confirmou ser o artista gráfico encarregado de fazer os memes. "Conforme eles pediam alguma ação eu fazia para eles, entendeu?", disse.

Em uma das conversas obtidas pela Folha de S.Paulo, Carteiro Reaça encaminha alguns memes e sugere que sejam divulgados "nas redes", pois "ajuda muito".

Uma das montagens traz o tucano Macris amarrado por Fred Jones, personagem do desenho animado Scooby-Doo. Fred, com cara de reprovação, segura a prova do "crime": uma bandeira do PT.

Bruno Costa de Jesus, que semanas depois passaria a ser secretário especial do gabinete, responde: "Ótimo, vamos viralizar". Sonaira Fernandes de Santana, assessora de Eduardo, responde: "legal!".

Numa ocasião, Carmona sugere ao deputado estadual a realização de duas versões de um meme com a temática "você conhece Cauê Macris?". Sonaira afirma, então, na sequência: "vou te ligar de um telefone final 8068".

Em outro momento, o assessor Bruno Jesus diz para o deputado: "tem uns [memes] que são bens pesados, ótimo para mostrar as tramoias de modo que o povo entenda".

Em nota enviada na quinta (24) à Folha de S.Paulo, Diniz disse que "até o presente momento não fomos informados de que a produção de memes representa alguma modalidade de crime, ainda mais quando produzidos de forma voluntária e distribuídos entre amigos".

Procurado novamente pela Folha de S.Paulo na sexta (25), afirmou: "Amigão, o papo agora é só na Justiça. Você vai ter de provar na Justiça essa central de dossiês, bom trabalho".

Eduardo Bolsonaro e Sonaira não responderam ao jornal. Às 13h desta sexta, o deputado escreveu no Twitter: "Ei! Psiu! É... É você mesmo. Pare de fazer memes. Meme é crime. Memes matam...".

´Em entrevista ao programa Roda Viva, na segunda (21), a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) disse que assessores de Carlos, Eduardo e Flávio Bolsonaro, parlamentares filhos do presidente Bolsonaro, lideram uma rede especializada em disseminar pelas redes sociais campanhas de difamação e notícias falsas contra adversários políticos.

O Congresso criou uma CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) com o objetivo de investigar ataques cibernéticos e o uso de perfis falsos para influenciar a eleição de 2018.

Na semana passada, Diniz foi acusado por Alexandre Junqueira, ex-assessor, de cobrar de seus funcionários a devolução de parte da remuneração. A prática é conhecida como "rachadinha". Diniz afirmou à Folha de S.Paulo que a acusação é falsa.