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Estudante é hostilizado em residência: 'Vamos ver com quantos paus se mata um racista'

Caso ocorreu na residência universitária onde estudante que se recusou a receber prova de professora negra morava

Por Correio 24h 11/12/2019 16h04
Estudante é hostilizado em residência: 'Vamos ver com quantos paus se mata um racista'
Imagens do vídeo - Foto: Reprodução

O caso de racismo envolvendo a professora Isabel Reis e o aluno Danilo de Araújo Góis segue deixando tenso o clima na comunidade acadêmica. Em um vídeo que circula nas redes sociais é possível ver uma tentativa da invasão ao quarto do estudante na residência universitária em que ele vivia, na cidade de São Félix, no Recôncavo baiano.

No vídeo, um homem negro tenta abrir à força a porta de um quarto e, bastante nervoso, diz frases como: “Vamos ver com quantos paus se mata um racista”, “eu estou consciente do que estou fazendo” e “pode chamar a polícia, o papa. Você não é contra viado? Negro? Você não é macho?”, dizia, chamando o estudante para fora do quarto. 

Segundo informações de Gabriel Ávila, vice diretor do Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL), onde o caso ocorreu, o aluno já foi oficialmente desligado da residência universitária. “Tomamos conhecimento do vídeo de forma informal, pelas redes sociais, mas mesmo assim estamos apurando, para agir nos que nos cabe. O aluno já saiu do quarto, que não tem mais nenhum pertence dele”, detalha. Danilo morava na Casa de Estudantes Maria do Paraguaçu.

Ainda segundo Gabriel, o aluno já havia sido transferido de residência quando se recusou a dividir o quarto da unidade com um estudante homossexual. Agora, a postura do estudante será alvo de uma investigação interna, através de um inquérito. O pedido para início do procedimento já foi enviado e deve ser apreciado pelo reitor da universidade ainda nesta quarta-feira (11). “É atribuição do reitor abrir o inquérito. Feito isso, uma comissão vai se debruçar sobre as documentações que temos”, conta. A solicitação é pelo desligamento do estudante da universidade.

“A gente compreende que racismo, homofobia e intolerância de qualquer natureza não condiz com o ambiente acadêmico e devem ser combatidos”, destaca Gabriel. Segundo ele, com a abertura do inquérito, o estudante acusado terá 15 dias para apresentar sua defesa.

Na manhã desta quarta-feira (11), membros da comunidade acadêmica, que já prestaram depoimento na Polícia Civil, foram ao Ministério Públicoem busca de orientações. “Estamos sendo orientados sobre como proceder e dar continuidade e ver em que tipo penal ele será enquadrado, no processo externo à universidade”, finaliza.   

Oficialmente, a Universidade Federal do Roconcâvo Baiano (UFRB), informou as penalidades que o processo administrativo interno pode resultar. "O primeiro passo é a abertura de um processo administrativo, que tramitará de acordo com as normas previstas no regimento da UFRB, podendo levar às seguintes penalidades: advertência verbal, repreensão escrita, suspensão de 30 dias, suspensão de 90 dias e desligamento da Universidade", diz em nota.

Entenda o caso
Um estudante da Universidade Federal do Recôncavo (UFRB) é acusado pelos colegas de racismo após se negar a receber um documento das mãos da professora. Em um vídeo que circula nas redes sociais, a docente diz: “Não estou entendendo?”. E o estudante, estático em frente à mesa, indica com o dedo para que ela deixe o papel sobre a mesa, numa suposta recusa em pegar o documento das mãos da professora. Segundo alunos do curso de Ciências Sociais da UFRB, o colega de sala agiu dessa forma porque a docente é negra. 

O vídeo foi gravado na noite de segunda-feira (9) no Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL) da UFRB, na cidade de Cachoeira, Recôncavo baiano, e postado numa página do Instagram. A UFRB publicou uma nota afirmando que uma comissão foi criada para apurar as denúncias (confira abaixo). 

A imagem, que circula nas redes sociais, mostra o aluno Danilo Araújo de Góis,de camisa amarela, de costas, em pé, conversando com a professora Isabel Cristina Ferreira dos Reis. Na gravação, a reação da professora é de espanto. “Não estou entendendo?”, diz ela e o aluno argumenta em seguida - mas o conteúdo é inaudível.

Logo depois, a  professora estende o braço e diz: “Tome o papel”. E o aluno responde: “Papel na mesa”. A situação causou alvoroço na sala por parte do restante da turma, que reprovava a atitude do colega de classe.