Agricultura

Canal do Sertão é uma das apostas da Embrapa para fomento de cadeias alimentares em Alagoas

Direção da estatal celebra primeiros passos em Maceió

Por Ascom Embrapa 13/12/2019 20h08
Canal do Sertão é uma das apostas da Embrapa para fomento de cadeias alimentares em Alagoas
Direção da estatal celebra primeiros passos em Maceió - Foto: Ascom Embrapa

Numa cerimônia simples, mas concorrida, a direção da Embrapa Alimentos e Territórios realizou na manhã do último dia 22 de novembro um evento de agradecimento pelo apoio que tem recebido de vários setores para implantação das primeiras estruturas administrativas da nova Unidade em Maceió (AL). O evento ocorreu no auditório “Aqualtune”, no Palácio República dos Palmares.

“A Embrapa vai poder colaborar fortemente para criarmos uma das maiores áreas de horticultura protegida do mundo, com as condições que temos no perímetro do semiárido atingido pelo Canal do Sertão”, disse o chefe-geral da Unidade, João Flávio Veloso durante apresentação que fez para o público presente.

Veloso considera a real possibilidade de que na região polarizada por Arapiraca, por exemplo, possa ser implantado uma espécie hub da horticultura, apoiado por uma logística, já praticamente instalada, de transporte de cargas. “É um importante polo produtor nessa região do Nordeste, de onde pode partir produtos alimentares para as principais cidades da região”, avalia.

Ele disse que já existem experiências exitosas, como em Almeria, na Espanha. “O Canal do Sertão possui vantagens incomparáveis como a disponibilidade hídrica, umidade relativa baixa, disponibilidade de luz solar e temperatura elevados, mercado consumidor próximo e acessível, empresas de transporte de alimentos já em operação na região e as singularidades próprias da região”, detalhou.

Apoio político e multi-institucional

Veloso ressaltou que foi um longo trabalho de prospecção, busca de apoio e submissão do projeto que originou a nova Unidade, mas o resultado promete ser dos mais compensadores numa análise mais detalhada de custo/benefício. “Por unanimidade, toda a bancada federal alagoana aprovou uma emenda impositiva no orçamento da União destinada exclusivamente para a instalação da Embrapa Alimentos e Territórios”, afirmou.

Para iniciar os trabalhos já estão garantidos, para 2020, R$ 4.552 milhões. “No ano seguinte serão R$ 15 milhões e mais R$ 20 milhões para 2022”, informa. “A gente precisa agradecer de público a todos os senadores e deputados federais, que, por unanimidade, compreenderam a importância desse investimento para o desenvolvimento territorial a partir da implantação de mais uma unidade da Embrapa no Nordeste”, disse Veloso.

Cadeias alimentares

O novo centro de pesquisas da Embrapa em Alagoas colocou também entre seus objetivos iniciais o de criar estratégias específicas para a fruticultura e para a cadeia produtiva do leite. Segundo João Veloso, existe viabilidade concreta para que sejam criados selos de qualidade para as frutas como a laranja-lima produzida na região de Santana do Mundaú, na zona da mata norte do estado. “Definindo as indicações geográficas, fica mais fácil para fomentar novos mercados consumidores mais exigentes”, garante o executivo.

“Hoje o consumidor urbano, além de comer, quer conhecer a história do alimento, conhecer sua identidade”, acrescentou João Flávio. É a partir dessa lógica que a Embrapa vai direcionar suas próximas pesquisas. Veloso diz também que haverá um investimento significativo da equipe no desenvolvimento de novas tecnologias alimentares, vinculadas à interface alimentação X saúde.

Ele apresentou dados que informam que o impacto negativo da má nutrição na saúde humana consome 5% do PIB global. Disse que será cada vez mais importante o papel da bioeconomia e que a Embrapa vai favorecer nos próximos anos processos de integração entre o campo e as cidades.

Consumo e cidadania

“A nossa Unidade vai investir muito também no empoderamento dos consumidores”, avisa Veloso, que incluiu na lista de tarefas de sua equipe a busca constante por agregação de valores nas cadeias produtivas agrícolas, a questão das mudanças do clima, a busca por convergências tecnológicas para os processos de pesquisa e inovação e a sustentabilidade dos sistemas de produção de alimentos.

Pesquisadores da nova Unidade já estão envolvidos no suporte técnico para a cadeia produtiva do leite. “Alagoas tem uma bacia leiteira importante polarizada pela cidade de Batalha. Hoje é a principal do Nordeste, situada num local espetacular onde a demanda por leite é elevada, mas não atendida. Talvez no Brasil seja uma das poucas realidades onde tem que vir leite de outro local para suprir a demanda local”, salientou. Ele ressaltou ainda que o  Nordeste possui centros consumidores promissores, abrigando a segunda maior população regional, onde a demanda por alimentos é maior que a oferta.

Outra área que promete bons frutos é a das cadeias produtivas da maricultura. Pesquisadores da empresa já iniciaram contato com representantes do setor e a ideia é ajudar na elaboração de rotas gastronômicas e turísticas alcançando comunidades de pescadores artesanais, como os da região de Coruripe e do estuário do Rio Roteiro. “O potencial da cadeia produtiva da maricultura, apenas no estado de Alagoas, ainda está por ser estimado, mas os pescadores e marisqueiros tradicionais deverão receber uma atenção especial da nossa equipe”, afirma.

Essas rotas que articulam o turismo e a gastronomia têm se transformado em grandes oportunidades econômicas mundo afora. Segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, na sigla em inglês), em 2017, cerca de 50% dos gastos nessas atividades foram com alimentação. É um negócio que movimenta 3,7% do PIB nacional, alcançando algo em torno de U$ 160 bilhões e quase 7 milhões de empregos. 

João Flávio explicou ainda que a nova Unidade da Embrapa em Alagoas surge com objetivos muito focados em fortalecer políticas públicas para alimentação saudável e adequada. “Respeitando as especificidades culturais e regionais dos consumidores e dando suporte aos processos de produção e consumo de alimentos de grupos sociais e etnias”, afirma. “Alimentar-se não se resume a uma exigência meramente fisiológica. É um processo bem complexo que tem a ver com seleção, escolhas, oportunidades e ocasiões, ritos, sociabilidade, ideias e até posicionamentos ideológicos”, acrescentou.

Ele disse que o desafio de sua equipe vai ser, basicamente, prospectar a biodiversidade e os territórios alimentares, materializando produtos e processos, de maneira que possam estar inseridos parâmetros de saúde e boa nutrição, identidades culturais, para fomentar a inclusão social, produtiva e econômica.

Impactos na realidade

Veloso disse que os impactos sociais almejados são: aumento do emprego e da renda, geração de produtos alimentares funcionais, valorização de produtos alimentares brasileiros, agregação econômica dos produtos territoriais e geração de conhecimento sobre produtos diversos para uso gastronômico.

A ideia é que a Embrapa Alimentos e Territórios disponibilize novas tecnologias de produtos e processos alimentares, apoie o incremento da exportação desses produtos, amplie o conhecimento do patrimônio alimentar nacional, promova novos modelos de inclusão produtiva e proporcione a melhoria dos sistemas de produção agroalimentar de base territorial.

Sede provisória

Já são 15 empregados e pesquisadores transferidos para nova Unidade e ao longo de 2020 mais profissionais serão agregados à equipe. A Unidade está instalada no prédio anexo da Secretaria de Agricultura do Estado. João Flávio apresentou também um prospecto das futuras instalações no Povoado da Saúde, na antiga fábrica têxtil. “A ideia é recuperar a fábrica para fazer uma conexão com o alimento e a história criando laboratórios para a infraestrutura de trabalho”, ressaltou.

O projeto contempla salas, inclusive para apoio administrativo. Laboratórios e cozinhas experimentais, auditórios e salas de reunião, salas de apoio, salas de campo, garagens e outras áreas externas. O projeto se espelha nos centros multifuncionais alimentares na França.  “Serão implantados de laboratórios de análise de alimentos, cromatografia, espectrometria, nutrição experimental, bioensaios, nutrição e gastronomia experimentais”, detalhou Veloso.