Economia

Indústria brasileira de brinquedos espera produção histórica com coronavírus

As fábricas da China precisam estar plenamente recuperadas até abril para atenderam aos pedidos relativos ao Dia das Crianças no Brasil. Caso contrário, não conseguirão produzir ou entregar a tempo

Por Estadão Conteúdo 27/02/2020 15h03
Indústria brasileira de brinquedos espera produção histórica com coronavírus
Os brinquedos chineses correspondem a 48% do que é vendido no mercado nacional. A indústria brasileira fica com os outros 52% - Foto: Reprodução

A Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq) afirma que o surto de coronavírus, que paralisou a produção na China, pode ser uma oportunidade para as fábricas brasileiras.

Segundo Synesio Batista, presidente da entidade, as fábricas da China precisam estar plenamente recuperadas até abril para atenderam aos pedidos relativos ao Dia das Crianças no Brasil, caso contrário, não conseguirão nem produzir e muito menos enviar os produtos até a data comemorativa em outubro. Pelo cenário atual, é pouco provável que a produção chinesa retome plenamente nos próximos dois meses.

"O que está se descortinando é a tempestade perfeita e, se eles não derem conta, nós estamos aqui preparados, com capacidade instalada e vontade de fazer", afirma Batista.

Atualmente, segundo a associação, os brinquedos chineses correspondem a 48% do que é vendido no mercado nacional. A indústria brasileira fica com os outros 52%. 

"Em 1994, a indústria nacional tinha 98% de participação de mercado. Em 1995, por causa do Ciro Gomes, caímos para 13%", diz Batista, em referência ao período de quatro meses em que Ciro Gomes foi ministro da Fazenda e reduziu a tarifa de importação de 445 produtos. "Fomos retomando até chegar ao patamar atual de 52%", afirma.

Caso se concretize, a momentânea retomada em 2020 pode ser considerada histórica, na avaliação da entidade. Batista diz que as fábricas brasileiras operam com 40% da capacidade instalada. Se houver necessidade de complementar a fatia de mercado que hoje é ocupada pela China, via produção nacional, poderão ser criados no Brasil até 25 mil empregos para atender as vendas no Dia das Crianças. 

Batista garante ainda que a produção em território nacional não afetaria o preço dos brinquedos, que são produzidos a custos muito baixos no gigante asiático. 

"Não vejo impacto para o consumidor. Os brinquedos importados da China são de valor unitário pequeno. Esse tema não nos preocupa. O consumidor não pagará pelo coronavírus", afirma ele. 

Batista voltou na última terça-feira de Nova York. Lá, conversou com empresários chineses e de outros países.

"A presidente da Abrinq de Xangai me ligou para perguntar se existia a possibilidade de enviar máscaras daqui do Brasil", diz. Segundo o presidente da associação, o governo chinês exige que as fábricas garantam máscaras para todos os funcionários para liberar a volta do funcionamento das empresas.

"Cada máscara dura no máximo quatro dias. São 4,5 milhões de trabalhadores na China. Estima-se que das 8.500 fábricas de brinquedos do país, apenas 30% delas estejam operando". 

Outros setores também acreditam que terão oportunidades de elevar a produção para suprir lacunas na produção chinesa.

José Velloso, presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), diz que existe uma oportunidade de aumentar as vendas no Brasil por causa do coronavírus. "A gente entende que pode haver uma substituição por bens produzidos no Brasil", diz Velloso.

Segundo a Abimaq, atualmente 18% das máquinas e equipamentos são importados da China. 

"Não vou perder vendas de máquina, porque a China não compra da gente. Mas pode ser que eu ganhe para substituir máquinas chinesas. Se 18% vem da China, essa turma [que não compra da indústria nacional] deve estar com a pulga atrás da orelha e pode querer passar a não depender do fornecimento chinês", afirma. 

O setor do plástico também vê uma possibilidade de crescimento de demanda. 

"Teve uma perda da demanda mundial, mas no Brasil foi muito pouco. Não tivemos perda do mercado. Também temos outra perspectiva, já que boa parcela do plástico vai pra saúde, para a fabricação de seringas, bolsas de soro, frascos de remédio", diz José Ricardo Roriz Coelho, da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico).