Brasil

Entidades acusam governo de esconder avanço do coronavírus entre indígenas

Segundo dados oficiais, há 45 mortes pela Covid-19 entre os indígenas, mas entidade calcula 159

Por Metrópoles 01/06/2020 09h09
Entidades acusam governo de esconder avanço do coronavírus entre indígenas
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) informou hoje que 38 povos indígenas do país já foram afetados pelo novo coronavírus - Foto: DR

Não há dúvidas de que o novo coronavírus circula entre os povos indígenas brasileiros. No entanto, existe um abismo entre as estimativas oficiais de contágio pela Covid-19 e o levantamento feito por entidades que representam essas comunidades. Para o governo, há 1.119 casos confirmados e 45 mortes decorrentes da doença. Contudo, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) aponta 1.604 infectados e 159 mortos, nas 75 etnias espalhadas por todas as regiões do país.

Esse abismo se explica pelo fato de o governo computar apenas casos entre os indígenas que vivem em aldeias dentro de reservas reconhecidas. Segundo dados oficiais, porém, não chega a 60% o número de indígenas nessa situação. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou em 2010 (último dado disponível) que 517 mil (57,7%) das 896 mil pessoas que se declaravam indígenas estavam em aldeias.

“É um racismo institucional não contabilizar esses indígenas que estão no contexto urbano”, frisa Nyg Kaingang, que vive na Terra Indígena Apucaraninha, no interior do Paraná, com mais 2.100 pessoas.

“Estar na cidade não significa que não é indígena. Além disso, muitos estudantes indígenas ficaram presos nas cidades para cumprir o protocolo de não entrar nas aldeias. Os contextos são muitos e esse recorte é uma forma de minimizar o drama do coronavírus”, completa Nyg, que participa da Apib e vem buscando formas de denunciar o avanço da Covid-19 entre o seu povo.

Coordenadora da Apib, Sônia Guajajara, que foi candidata a vice-presidente do Brasil na chapa de Guilherme Boulos (PSol), denuncia o caso de Manaus, onde viviam, segundo ela, 40% dos indígenas mortos por coronavírus no estado.

Para a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, porém, são apenas dois óbitos computados em Manaus.

O Metrópoles questiona o Ministério da Saúde desde a semana passada sobre as razões para a não inclusão dos indígenas não aldeados nas estatísticas, mas não recebeu resposta até a publicação desta reportagem.