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Americanos contrários a atos antirracismo usam carros e armas para atacar manifestantes

Por Folhapress 10/06/2020 14h02
Americanos contrários a atos antirracismo usam carros e armas para atacar manifestantes
Foto mostra momento em que pessoas são atropeladas quando um veículo se dirigiu contra grupo que protestava contra manifestantes supremacistas - Foto: Foto: Ryan M. Kelly / AP

Atropelamentos se tornaram armas para indivíduos que se opõem aos protestos contra o racismo e contra a violência policial que se espalharam por centenas de cidades nos Estados Unidos.

Embora 74% dos americanos apoiem as manifestações, de acordo com pesquisa feita a pedido do jornal The Washington Post, houve casos em que indivíduos usaram a violência para reprimir os ativistas.

Em alguns deles, além dos atropelamentos, foram utilizados armas de fogo, motosserra, e até arco e flecha.

No registro mais recente, feito no último domingo (7), um homem branco usou o carro para entrar no meio de uma manifestação em Seattle, no estado de Washington. Um dos ativistas, um homem negro, tentou impedi-lo e acabou baleado no braço.

Empunhando a arma, o motorista deixou o carro e correu entre a multidão até se entregar à polícia. Segundo autoridades locais, o manifestante baleado foi levado ao hospital em condições estáveis, e ninguém mais ficou ferido.

No mesmo dia, em Richmond, na Virgínia, um homem publicamente ligado à Ku Klux Klan, grupo racista americano, acelerou sua caminhonete contra um grupo de manifestantes.

Não houve feridos, mas o motorista foi preso por intimidação e agressão. A polícia local também estuda indiciá-lo por crime de ódio.

O mesmo homem participou, em 2017, da manifestação em Charlottesville, onde centenas de homens e mulheres de extrema direita fizeram saudações nazistas e gritaram palavras de ordem contra negros, imigrantes, homossexuais e judeus.

Na ocasião, Heather Heyer, uma defensora dos direitos civis, foi atropelada e morta por um neonazista que feriu outras 35 pessoas ao dirigir contra uma multidão que protestava contra os supremacistas brancos.

Em Minneapolis, cidade onde George Floyd foi morto e que foi palco dos primeiros protestos, um caminhão-tanque avançou sobre ativistas no último dia 31.

Imagens das câmeras de monitoramento de tráfego mostram o momento em que milhares de pessoas correm para as laterais das pistas enquanto o caminhão-tanque se aproxima.

Nenhum dos manifestantes ficou ferido. Parte deles, entretanto, cercou o veículo após sua parada e espancou o motorista.

Em Bakersfield, na Califórnia, um homem foi preso por tentativa de homicídio depois de atropelar uma adolescente de 15 anos que participava de um protesto contra a morte de Floyd, no último dia 29.

De acordo com a polícia, o motorista passou pelos manifestantes várias vezes antes do incidente. Na última ocasião, ele provocou o grupo, de cerca de 300 pessoas, com gestos e, ao ser cercado, acelerou o carro e atingiu a garota, que não teve ferimentos graves.

Em Denver, no Colorado, uma motorista fugiu depois de avançar contra manifestantes no último dia 28.

As imagens gravadas por uma testemunha mostram um homem sobre o capô do carro enquanto o veículo acelera. Na sequência, a motorista manobra o carro para atingir o homem novamente, e foge. A polícia local investiga o caso.

Além dos ataques com veículos, diversos tipos de armas foram utilizados para ameaçar manifestantes em cidades americanas.

Em Salt Lake City, um homem foi espancado por manifestantes depois de ameaçá-los com arco e flecha.

Na última sexta-feira (5), um homem usou uma motosserra ligada para ameaçar os manifestantes, gritando uma série de insultos raciais em McAllen, no Texas.

Incitados pelo assassinato de George Floyd, os atos antirracismo começaram pacíficos, mas tiveram uma escalada de violência -com lojas saqueadas, carros e prédios incendiados, e confrontos com a polícia-, gerando críticas duras aos ativistas, como as do presidente Donald Trump, que os tem chamado de "bandidos".

Nos últimos dias, os atos voltaram a ser pacíficos, principalmente após a ampliação das acusações contra os policiais envolvidos na morte de Floyd e as propostas de reforma nos protocolos que regem a conduta policial americana.

Floyd foi abordado por quatro agentes de Minneapolis depois que o atendente de uma loja acionou a polícia acusando-o de tentar utilizar uma nota falsa de US$ 20.

Durante a abordagem policial, ele teve o pescoço prensado no chão pelo agente Derek Chauvin, e o vídeo que registrou o momento viralizou nas redes sociais.

Chauvin ignorou não só os avisos de Floyd de que não estava conseguindo respirar, como os apelos das testemunhas, que apontavam uso excessivo de força.

Os quatro policiais foram demitidos assim que o caso veio à tona. Agora, Chauvin é acusado de homicídio em segundo grau, o equivalente a homicídio doloso, quando há intenção de matar. Ele pode pegar até 40 anos de prisão. Os outros três policiais foram indiciados como cúmplices.

Na segunda-feira (8), o Congresso dos EUA começou a debater um projeto de lei para reformar o sistema policial, em resposta a algumas das demandas das centenas de protestos que se espalharam pelo país após a morte de Floyd.

A proposta de legislação, elaborada por membros do Partido Democrata, cria um registro nacional sobre má conduta policial e torna mais fácil processar agentes acusados de más práticas.

O projeto também prevê a proibição de estrangulamentos e outras táticas de abordagem violenta, como a utilizada na morte de Floyd.

A morte do ex-segurança gerou uma onda de protestos que se espalhou por centenas de cidades dos EUA e outras partes do mundo. Floyd foi lembrado em atos na África, na Ásia, na Europa, na Oceania, e também no Brasil.

George Floyd foi enterrado nesta terça-feira (9), em Houston, cidade em que cresceu, ao lado do túmulo de sua mãe.