Saúde

Máscaras também podem reduzir gravidade da Covid, conclui estudo

Uso reduz exposição ao vírus e, em caso de infecção, doença pode ser mais branda ou até assintomática.

Por G1 07/08/2020 08h08 - Atualizado em 07/08/2020 08h08
Máscaras também podem reduzir gravidade da Covid, conclui estudo
Uso de máscaras é obrigatório em Maceió. - Foto: Secom Maceio

Autoridades de saúde e governos de vários países recomendam ou tornam obrigatório o uso de máscaras porque elas diminuem as chances de pessoas infectadas espalharem o novo coronavírus.

Porém, um novo estudo concluiu que o uso de máscaras também reduz a carga viral à qual estamos expostos e, se infectados, a manifestação da doença pode ser mais branda ou mesmo assintomática.

A pesquisa realizada nos Estados Unidos pelos médicos Monica Gandhi e Eric Goosby, da Universidade da Califórnia, e pelo pesquisador Chris Beyrer, da Universidade Johns Hopkins, examinou vários casos e concluiu que a exposição ao coronavírus sem consequências graves devido ao uso de máscaras pode gerar uma imunidade em toda a comunidade e reduzir a propagação da doença.

Muitas pessoas continuam se recusando a usar máscaras mesmo diante da informação de que elas evitam que se contaminem os outros. Mas agora o estudo sugere que as máscaras podem ter um grande benefício individual para quem as usa, o que é um incentivo a mais para seu uso.

O estudo foi publicado no "Journal of General Internal Medicine".

O efeito da carga viral

Os médicos Gandhi, Goosby e Beyrer compararam dados de várias situações: algumas nas quais os grupos usavam máscaras, outras nas quais eles não usavam. E depois fizeram uma relação entre isso, a carga viral à qual as pessoas foram expostas e as de infecções leves ou assintomáticas.

A infecção assintomática pode ser problemática porque promove a disseminação do vírus por pessoas infectadas sem que elas saibam. Mas, ao mesmo tempo, ser assintomático e não gravemente doente é benéfico para o indivíduo, dizem eles.
Além disso, taxas mais altas de infecção assintomática levam a taxas mais altas de exposição ao vírus.

Os pesquisadores reconhecem que a resposta imune de anticorpos e células T a diferentes manifestações da Covid-19 ainda está sendo analisada, mas as evidências encontradas nos dados do desenvolvimento dessa imunidade celular, mesmo com uma infecção leve, são encorajadoras.

Evidências

A conclusão de que os usuários de máscaras são expostos a uma carga viral mais baixa, que resulta em uma infecção mais leve, é ​​apoiada pelo estudo de três importantes acumulações de evidências: virológica, epidemiológica e ecológica.

As máscaras — dependendo do tipo e do material — filtram a maior parte das partículas virais, embora não todas. Há algum tempo acredita-se que a exposição a esse baixo nível de partículas virais provavelmente produz uma doença menos grave.

Resultados de experimentos realizados no passado com humanos expostos a diferentes volumes de vírus não letais demonstraram sintomas mais graves em indivíduos que receberam uma carga viral mais alta.

Com o novo coronavírus, a experimentação não é possível nem ética, mas os testes realizados em hamsters que simulavam o uso de máscaras separando os animais com uma parede divisória feita de máscara cirúrgica, não só mostraram que os hamsters protegidos eram menos propensas à infecção, mas que, quando eram infectados com Covid-19, tinham sintomas leves.

Em termos de evidência epidemiológica, os médicos indicam que as altas taxas de mortalidade observadas no início da pandemia parecem estar associadas a intensa exposição a alta carga viral antes da introdução do uso de máscaras.

Caso do cruzeiro argentino

Um caso recente em particular é notável: o de um navio de cruzeiro na Argentina, onde todos os passageiros e tripulantes receberam máscaras após a detecção de um surto de Covid-19.

Nesse ambiente fechado, 128 das 217 pessoas a bordo tiveram resultado positivo para coronavírus. No entanto, a maioria dos infectados (81%) permaneceu assintomática.

Como evidência ecológica, pesquisas indicam que países e regiões que estão acostumados a usar máscaras faciais para controle de infecção, como Japão, Hong Kong, Taiwan, Cingapura, Tailândia e Coréia do Sul, não sofreram tanto em termos da gravidade da doença e mortalidade.

O mesmo aconteceu com os países que aplicaram a máscara com antecedência. Além disso, mesmo quando esses países registraram o ressurgimento dos casos de Covid-19 ao retomar a atividade social e econômica, as taxas de mortalidade permaneceram baixas, corroborando a teoria da carga viral, afirmam os autores do estudo.

Em conclusão, os médicos argumentam que o uso universal de máscaras durante a pandemia deve ser um dos fundamentos mais importantes no controle da doença e advogam que essa medida seja tomada em particular nos Estados Unidos, onde as diretrizes não são homogêneas e parte da população continua a resistir, por vezes violentamente, contra o uso de máscaras.

Eles observam que durante a devastadora pandemia de gripe em 1918, os americanos adotaram com sucesso o uso de máscaras em público, mas a resposta às recomendações atuais dos Centros de Controle de Doenças (CDC) tem sido mista.

O uso de máscaras tem duas vantagens. O primeiro é proteger outras pessoas, evitando a propagação do vírus por uma pessoa infectada. Se essa preocupação com os outros não for suficiente, talvez a segunda vantagem — benefício individual — seja uma motivação mais eficaz.