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Mulheres no delivery: entregadora faz jornada de 18h para sobreviver a pandemia

Andrea Soares concedeu detalhes sobre a sua jornada de trabalho e dificuldades da sua profissão

Por Felipe Guimarães, com Ellen Oliveira* 17/04/2021 08h08
Mulheres no delivery: entregadora faz jornada de 18h para sobreviver a pandemia
Andrea Soares tem 49 anos e trabalha das 05h às 23h todos os dias - Foto: Arquivo Pessoal

Precisar trabalhar durante a pandemia do novo coronavírus não é uma tarefa fácil. Com 369.024 mil mortos em todo o Brasil, sendo destes 3.921 em Alagoas, registrados até a última sexta-feira (16), os trabalhadores de todo o país precisam reunir todas as forças possíveis para continuar mantendo os seus empregos.

Para a motociclista Andrea Soares Oliveira, de 49 anos, esse desafio não foi diferente. Mãe de dois filhos e esposa, a trabalhadora possui 25 anos de experiência na área e realiza entregas em pelo menos cinco municípios de Alagoas, iniciando sempre às 5h da manhã e encerrando a sua jornada diária somente às 23h.

Apesar de trabalhar bastante, tirando de dois a três reais por entrega, a sua renda serve apenas para poder alimentar a sua família e dar conta das manutenções de seu veículo.

“O que ganho no dia da para poder alimentar a família. De dois em dois meses tenho que trocar o óleo da moto, porque rodo bastante. O pneu dura de seis a sete meses, no máximo, dependendo como está o estado. Eu faço Paripueira, Satuba, Rio largo, parte alta, parte baixa, Barra de São Miguel, onde mandar eu vou. Seria bom que valorizassem mais o trabalho da gente”, comentou.

De acordo com dados levantados pela organização Mulheres na Pandemia, pelo menos 50% das mulheres brasileiras passaram a cuidar de alguém, enquanto 72% declararam precisar acompanhar ou monitorar alguém e outras 41% precisaram continuar trabalhando para manter o seu sustento.

Andrea está incluída no grupo de mulheres que precisam continuar exercendo o seu ofício mesmo durante os piores momentos da pandemia da Covid-19 no país. Fora a preocupação em pegar o vírus, ela comenta que precisa lidar com os diversos imprevistos do dia a dia da sua profissão.

“É complicado demais, tem que trabalhar porque não tem outro jeito mesmo, mas além do cansaço ainda tem vários imprevistos que temos que lidar. Uma vez estacionei a minha moto em frente ao hospital e fui fazer uma entrega, daí um carro deu ré, bateu na moto e foi embora. Quando eu voltei minha moto tava destruída”, revelou.


Além de enfrentar toda essa barra, Andrea comentou passar muitas vezes por problemas em seu relacionamento com seu marido, que não se agrada de ver sua esposa voltando para casa tarde da noite.

“Meu esposo briga porque eu chego tarde, mas ele no momento tá sem emprego. Tenho filho, aí já é uma ajuda já, né?”, ponderou.

Mesmo com todas as dificuldades, a trabalhadora ainda faz parte de um seleto grupo de indivíduos que continua mantendo o seu ofício mesmo com o aumento no número de casos de desempregados em todo o país.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano passado, as taxas de desemprego mais alarmantes foram registradas nos estados da Bahia (19,8%), Alagoas (18,6%), Sergipe (18,4%) e Rio de Janeiro (17,4%). Em Alagoas, contudo, somente 35,9% das pessoas com idade para trabalhar estavam empregadas em 2020.

Questionada sobre a sua jornada de trabalho, Andrea Soares afirmou precisar ter bastante jogo de cintura para dar conta de toda essa situação. As fontes de sua inspiração para poder continuar lutando e trabalhando, é a sua fé.

“Tem que ter jogo de cintura pra poder controlar os horários rotas tudo isso e ser responsável e educada, independente de tudo. É isso. É ter fé em Deus principalmente, saúde e força de vontade pra poder seguir em frente”, finalizou.

*Com supervisão da Editoria